“O Trem das Crianças” — Gueto de Białystok, 2 de março de 1943

Ao amanhecer, as estreitas ruas do gueto de Białystok ecoavam o som suave de centenas de passinhos. Mil e duzentas crianças foram reunidas sob um pálido céu de inverno, com os casacos abotoados até o pescoço, segurando pequenos embrulhos, bonecas ou pedaços de pão. Os soldados alemães disseram aos pais que não chorassem — “Elas estão indo para a Suíça,” diziam, “para troca, para segurança.” As mães queriam acreditar, repetindo as palavras como uma oração que pudesse transformar a mentira em verdade. Os pais permaneciam imóveis, olhos vazios, temendo que um único gesto, um único som, rompesse o frágil véu de esperança que os mantinha de pé.

As crianças caminharam até a estação quase em silêncio. As que já compreendiam baixaram a cabeça e nada disseram. As pequenas agarravam suas bonecas e luvas, com os olhos arregalados sob a luz fria da manhã. Testemunhas recordariam mais tarde o silêncio insuportável — sem gritos, sem prantos, apenas o ritmo dos passos, da respiração e o chiado baixo dos trens à espera. Quando as portas se fecharam, o som do metal cortou o ar, e os pais ficaram para trás, braços ainda estendidos em direção aos trilhos vazios.

O trem seguiu primeiro para Theresienstadt. As crianças foram mantidas separadas, sem poder escrever ou receber cartas. Seus nomes nunca foram registrados. Dias depois, outro trem chegou — com destino a Auschwitz. Nenhuma delas sobreviveu.

Entre elas estava David Lewin, de nove anos, que havia escondido uma fotografia da mãe dentro do sapato. Quando o sapato foi encontrado após a guerra, a foto ainda estava lá — o sorriso borrado pelo tempo, os olhos cheios de amor e tristeza que a história jamais conseguiu apagar.

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