Será o fim para Aécio Neves e Michel Temer?
Depois do “fim do mundo” da
Odebrecht, delação da JBS provoca novo “apocalipse”.
Teor da colaboração premiada de
Joesley e Wesley Batista ameaça derrubar o presidente Michel Temer e implicar
vários parlamentares que receberam doações de campanha da empresa.
Há cerca de um mês, Brasília
estremeceu com o “fim do mundo” anunciado pela divulgação dos depoimentos de
colaboração premiada dos executivos da Odebrecht, que trouxe para o centro das
investigações figuras importantes da política brasileira. Nesta quinta-feira
(18), porém, o país acordou com um novo apocalipse causado pela Operação
Patmos, da Polícia Federal, nome que faz referência à ilha grega onde o
apóstolo João teve visões do Apocalipse.
Desta vez, os alvos foram pessoas
ligadas ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) e ao deputado federal Rodrigo Rocha
Loures (PMDB-PR). Os dois foram implicados no acordo de colaboração premiada
dos executivos da JBS – maior exportadora de carne bovina do mundo e dona da
marca Friboi.
A delação da JBS acabou se tornando
ainda mais explosiva do que o acordo da Odebrecht por expor crimes ainda mais
graves. O presidente Michel Temer (PMDB) foi gravado pelo sócio da JBS Joesley
Batista dando aval para o pagamento de propina para o ex-deputado federal
Eduardo Cunha (PMDB) permanecer em silêncio na prisão em Curitiba e não firmar
acordo de colaboração premiada.
Mas a colaboração da JBS deve ir
muito além do que já foi noticiado até agora. A empresa foi a maior doadora de
campanha em 2014 e a divulgação dos depoimentos deve arrastar outros
parlamentares para o centro da confusão política em Brasília.
“Pega o PT, o PSDB e o PMDB. Isso é
o que é mais desesperador para a classe política”, analisa o cientista político
Marcio Coimbra. “A gente está vendo que a Lava Jato não faz diferença entre
partidos políticos, como se dizia”, completa.
Segundo dados do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), a JBS doou em 2014 um total de R$ 366,8 milhões para campanhas
eleitorais de diversos partidos. Segundo levantamento do portal Uol, somente
para a eleição de 2014, a empresa doou 39,56% de todo o seu lucro líquido
registrado em 2013, que foi de R$ 926,9 milhões. Entre 2006 e 2014 foram doados
a campanhas políticas 18% dos recursos que a empresa conseguiu através de um
empréstimo do BNDES.
Com o acordo homologado e os
depoimentos vindo a público, os executivos da JBS podem explodir o mundo
político em Brasília e nos estados na mesma proporção, ou em grau ainda maior,
que os funcionários da Odebrecht.
Operação Patmos
Os principais alvos por enquanto foram
o senador Aécio Neves e o deputado federal Rodrigo Rocha Loures – braço direito
do presidente Michel Temer.
Aécio foi gravado pedindo o
pagamento de propina no valor de R$ 2 milhões para pagar um advogado para fazer
sua defesa na Lava Jato. O senador foi afastado do cargo a mando do Supremo
Tribunal Federal (STF) e chegou a ter o pedido de prisão feito pela
Procuradoria Geral da República, mas negado pelo ministro Edson Fachin, relator
da Lava Jato na Suprema Corte.
A irmão do senador, a jornalista Andrea
Neves, e o primo dele, Frederico Pacheco de Medeiros, foram presos durante a
operação dessa quinta-feira (18).
Já o deputado federal Rocha Loures
foi pego recebendo dinheiro depois de negociar com a JBS em nome do presidente
Michel Temer (PMDB). Ele também tem um pedido de prisão para ser analisado pelo
Supremo.
Para Coimbra, a situação de Aécio e
Rocha Loures são mais graves por causa das gravações feitas pela polícia e
pelos executivos. “Você pode ser citado, mas o que pega para o Rocha Loures e
para o Aécio são as gravações”, analisa o cientista político. “Se tivesse
gravações de qualquer outro parlamentar, ele estaria enrolado também”,
completa.
Para Coimbra, os dois parlamentares
devem ser cassados pelos colegas por quebra de decoro parlamentar. Se isso
acontecer, Aécio e Rocha Loures perdem a prerrogativa de foro e passam a ser
investigados pela Lava Jato em primeira instância.
Situação de Temer
O próprio presidente Michel Temer
acabou se complicando com a colaboração da JBS. Um dos sócios da empresa gravou
uma conversa na qual Temer dá o aval para a JBS pague uma mesada ao ex-deputado
federal Eduardo Cunha (PMDB) para que ele permanecesse em silêncio na prisão,
em Curitiba, e não fizesse um acordo de colaboração premiada. “Tem que
continuar isso, viu?”, teria dito Temer ao ser informado sobre o pagamento a
Cunha. O presidente tem dito a interlocutores, porém, que a conversa foi
retirada de contexto.
O teor das denúncias já fez com que
vários parlamentares pedissem a renúncia do presidente. Também já foram
protocolados na Câmara pedidos de impeachment de Temer por obstrução de Justiça
– crime de responsabilidade previsto na Constituição.
O PSDB – principal aliado do
governo – deve decidir ainda nesta quinta-feira (18) se deixa a base aliada e
entrega os cargos em ministérios que ocupa. O mesmo pode acontecer com outros
partidos da base. A falta de apoio no Congresso pode obrigar o presidente a renunciar,
para evitar uma paralisia decisória no país.
Gazetado povo.com
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