MESMO ARRECADANDO MAIS, GDF ATRASA TRÊS MESES DO 'DF SEM MISÉRIA' PARA MAIS DE 62 MIL FAMÍLIAS

GOVERNO ATRASA TRÊS MESES DO 'DF SEM MISÉRIA' PARA MAIS DE 62 MIL FAMÍLIAS



Benefício varia de R$ 20 a R$ 800 por cartão; aporte total chega a R$ 9,1 milhões mensais. Valores serão pagos 'quando houver disponibilidade financeira', diz GDF.
Famílias de baixa renda do Distrito Federal estão enfrentando dificuldades cada vez maiores para fechar as contas do mês, graças aos atrasos e suspensões nos pagamentos do DF sem Miséria. O benefício, que deveria garantir uma renda mínima de R$ 100 por habitante do DF, não é depositado nas contas desde fevereiro.
Questionada pelo G1, a Secretaria de Trabalho, Desenvolvimento Social e Direitos Humanos reconheceu atrasos nos repasses de fevereiro e março. A pasta diz que o pagamento será feito "quando houver disponibilidade orçamentária", sem informar uma data precisa para isso.
Beneficiários ouvidos pelo G1 afirmam que o pagamento de abril, que deveria ter sido feito nesta primeira semana, também está atrasado. Para o auxiliar de supermercado Eder de Oliveira, os R$ 220 do DF sem Miséria equivalem a 25% do salário mensal, de R$ 880.
"Meu filho de 8 anos teve pneumonia em março, eu também. O remédio custou R$ 80, e foi difícil comprar. Fiquei sem meu vale-transporte, e estou indo a pé para o trabalho, daqui do Guará até Águas Claras. É longe, mas é o jeito", diz.
Com o salário mínimo que recebe, Eder cuida da mulher e dos dois filhos. No contraturno, faz o 2º ano do ensino médio na Educação de Jovens e Adultos (EJA). "Tem três meses que a gente não recebe nada no cartão, e eu não sei o que aconteceu. Eles não informam, não dão prazo pra nada."
Em meio à crise
A negligência com as datas de pagamento do DF sem Miséria atinge justamente as famílias que mais sofrem com a crise econômica. Nos últimos meses, a capital federal atingiu desemprego recorde de 20% – o maior do país, segundo o Dieese –, e viu índices de inflação negativos motivados pelo baixo consumo.
Desempregada desde agosto, a auxiliar administrativo Joselita Gonzaga sentiu o impacto direto dos atrasos do benefício nas compras de mercado. O marido, que atuava como vigilante, também perdeu o emprego e, agora, precisa juntar dinheiro para renovar o curso de formação.
"Na alimentação, é onde faz mais falta. Mas às vezes, eu preciso comprar o remédio do meu filho de 12 anos, que tem asma, e fica complicado. A gente até consegue pegar a bombinha na rede pública, mas aí, tem que ir atrás da receita", diz. Joselita tem outros dois filhos, de 10 e 5 anos.
"Hoje mesmo [sexta] eu liguei lá cobrando, na Caixa Econômica, e a moça disse que não tinha nem previsão de cair. Estamos contando com a ajuda de familiares, meus sogros, meus pais. O aluguel desse mês eu não paguei, são R$ 600."
Valores
A Secretaria de Trabalho contabiliza atrasos de R$ 8,32 milhões em fevereiro, para 62.084 famílias, e de R$ 9,19 milhões em março, para 62.650 famílias – os dados de abril não foram informados. Segundo a pasta, o dinheiro para esses pagamentos teria de vir direto dos cofres do DF – o programa não está ligado à verba do Bolsa Família ou a algum repasse federal.
Apesar dos problemas, o governo do DF nega que haja qualquer discussão no sentido de alterar, suspender ou cancelar a existência do benefício. O DF sem Miséria foi lançado em junho de 2011, na esteira do Brasil sem Miséria. As duas iniciativas tentavam garantir renda mínima e colocar os beneficiários acima da "linha de pobreza".
Em julho do ano passado, o DF também chegou a acumular três parcelas pendentes do benefício. À época, ainda não tinham sido depositados os valores de fevereiro, março e junho. Em dezembro, o repasse atrasou mais uma vez.
Em novembro de 2015, reportagem da TV Globo mostrou que havia duas parcelas em atraso. Os valores foram repassados mas, dois meses depois, em janeiro de 2016, o cenário se repetiu. Em todas as ocasiões, o governo repetiu a mesma resposta atual – só faz o pagamento "quando houver dinheiro", sem prazos definidos.

G1-DF

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