INVASÃO DE
ESCOLAS EM 1966; ERA ASSIM QUE TERMINAVA!
Estudante abandona ocupação de escola prestes a ser invadida
pela polícia – Foto: Reprodução
As janelas do prédio da Faculdade Nacional de Medicina, no
Rio de Janeiro, eram altas, mas diversos estudantes não hesitaram em saltar
delas para a calçada. Naquela quinta-feira, 22 de setembro de 1966, essa era a
única forma de sair do prédio, já que o portão da entrada havia sido trancado
pelos próprios estudantes, em tentativa de barrar a repressão.
No decorrer de um protesto contra uma reforma do ensino que
sinalizava plano de privatização das universidades públicas, cerca de 600
estudantes acuados pela polícia acabaram se refugiando no prédio da faculdade,
instalada à época na Praia Vermelha, na Urca. Rumores de que o prédio seria
invadido foram confirmados na madrugada da sexta-feira.
Passavam das 3 horas quando homens da tropa de choque da
Polícia Militar fizeram de aríete um tronco de árvore e derrubaram o portão de
entrada. Ao mesmo tempo, outros policiais quebravam os vidros com cassetete e
entravam pelas janelas. Reunidos em assembleia no saguão do primeiro andar, os
estudantes se dispersaram pelo prédio.
Estudante de Engenharia Química, Jean Marc von der Weid se
preparava para fazer o seu primeiro discurso em uma assembleia estudantil
quando ouviu o estrondo do portão. Na sequência, enquanto mais de mil homens,
da PM e da polícia política, invadiam o prédio, Jean Marc voltou para o
terceiro andar, cuja ocupação ficara a cargo de sua faculdade.
“Os caras encurralaram todo mundo no terceiro andar. Depois,
nos obrigaram a descer, em fila indiana, por um corredor polonês formado pelos
PMs nas escadarias dos três andares. Descíamos levando cacetadas até que, no
térreo, o pessoal do Dops separava os que seriam presos dos que seriam
libertados, mandados para fora do prédio”, conta Jean Marc.
Ao descrever a invasão, que ficou conhecida como o Massacre
da Praia Vermelha, o jornal Correio da Manhã afirmou que a agressão policial
tinha alvos muito bem delimitados: “As pancadas dos PMs eram dirigidas
principalmente na cabeça e na nuca, em pontapés pelo corpo todo, e ainda
pancadas nos seios das moças”.
No dia seguinte, Correio da Manhã descreve a agressão
policial generalizada – Foto: Reprodução
Jean Marc, que três anos depois se tornaria presidente da
União Nacional dos Estudantes (então na clandestinidade), passou incólume pelo
corredor polonês: “Por coincidência, desci até o térreo entre dois amigos que
usavam barba. Como os caras achavam que os barbudos é que eram comunistas,
batiam neles. Os dois inclusive foram presos”.
Empurrado para fora do prédio, Jean Marc não escapou, porém,
de um sujeito grandalhão, à paisana: “Pulei três ou quatro degraus da escada,
mas não teve jeito. Levei uma porrada na coxa que me deixou três dias
capengando”. Meses depois, Jean Marc reencontrou o agressor, durante uma
instrução de tiro, quando fazia serviço militar, na Ilha do Governador.
Oficial da Marinha, ao descobrir que instruía universitários,
o sujeito ainda se gabou de ter “distribuído muita porrada” na madrugada da
invasão. Quanto à foto do estudante saltando pela janela que ilustra este
texto, Jean Marc se lembra que em um determinado momento da ocupação,
familiares de estudantes chegavam perto das janelas e pediam para que eles
abandonassem o prédio: “Não tenho ideia de quem era o fujão, mas não foram
poucos os que se escafederam quando a barra começou a pesar.”
http://brasileiros.com.br/2016/11/o-massacre-da-praia-vermelha/