MIRTILO É
CONSIDERADA UMA FRUTA PRECIOSA NO COMBATE A DOENÇAS CARDÍACAS E INFECÇÕES
Além de proteger os tecidos do organismo contra danos do envelhecimento,
as antocianinas do mirtilo favorecem a vascularização
Elas têm apenas 1cm de diâmetro e pesam entre 1g e 4g. Mas
que ninguém se engane: essas pequeninas pérolas azuis são autênticos tesouros
para a saúde. Pouco conhecidas no Brasil, onde foram introduzidas apenas na
década de 1980, as blueberries, ou mirtilos, são tratadas como superalimentos
por nutricionistas e têm sido investigadas pela ciência devido ao potencial de
combate a uma grande variedade de doenças. A associação entre o consumo regular
da fruta e a redução do risco cardíaco foi verificada em diversos estudos, que
também têm sugerido propriedades antibacterianas e anticancerígenas. Mais
recentemente, pesquisadores descobriram uma nova função para o mirtilo: combater
a disfunção erétil na meia-idade.
Apaixonada pela fruta, Sarah A. Johnson, diretora-assistente
do Centro de Pesquisas Avançadas em Nutrição e Exercícios Físicos no
Envelhecimento da Universidade Estadual da Flórida (EUA), explica que o segredo
do mirtilo está na quantidade e na qualidade de flavonoides que esse
superalimento contém. Os flavonoides consistem em um grupo de mais de 6 mil
nutrientes com reconhecidas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias.
Alguns são mais potentes do que outros, e as blueberries são particularmente
ricas em antocianina, uma poderosa substância estudada há décadas por
cientistas.
Uma das principais frentes de ação desse tipo de flavonoide é
o sistema circulatório. Além de proteger os tecidos do organismo contra danos do
envelhecimento, as antocianinas do mirtilo favorecem a vascularização — daí a
ligação da fruta com uma diversidade de doenças e condições relacionadas ao mau
funcionamento de veias e artérias. Para colher os benefícios, não é preciso
ingerir grandes quantidades da fruta. “Os nossos estudos sugerem que o consumo
regular de uma xícara de mirtilo pode atrasar a progressão de um estado de
pré-hipertensão para a hipertensão de fato e, dessa forma, reduzir o risco de
doenças cardiovasculares”, conta Johnson.
Em uma das pesquisas mais recentes na Universidade da
Flórida, a nutricionista verificou que a ingestão diária de 22g de mirtilo
desidratado — o equivalente a uma xícara da fruta fresca — reduziu em 5% a
pressão sistólica e em 6,3%, a diastólica de mulheres na pós-menopausa com
pré-hipertensão ou hipertensão em estágio inicial. Após oito semanas, elas
também foram beneficiadas com uma redução de 6,5% na rigidez arterial. “Nós
também descobrimos que houve um aumento de 68,5% na circulação sanguínea do
óxido nítrico, uma substância importante para o alargamento das veias
sanguíneas. Isso é muito importante porque a rigidez e o estreitamento das
veias e artérias estão envolvidos com a hipertensão”, observa Johnson.
A redução da hipertensão também foi observada por
pesquisadores da Universidade do Maine, nos Estados Unidos, que publicaram,
recentemente, um estudo sobre os benefícios da fruta na revista Applied
Physiology, Nutrition and Metabolism. No estudo, eles investigaram o potencial
da variedade selvagem do mirtilo, uma das poucas espécies frutíferas nativas da
América do Norte, no combate à síndrome metabólica, um grupo de fatores de
risco caracterizados por obesidade, hipertensão, inflamações, intolerância à
glicose, resistência à insulina, disfunção endotelial e dislipidemia
(percentual elevado de gordura no sangue).
Feito com ratos obesos, o estudo mostrou que a ingestão de
uma quantidade que, para humanos, seria o equivalente a duas xícaras da fruta
fresca por dia, alarga as paredes das veias e melhora a circulação do sangue,
além de reduzir os processos inflamatórios presentes antes do experimento. Além
disso, o mirtilo melhorou o perfil lipídico dos animais e a função endotelial.
“Esses resultados são mais uma evidência do grande potencial dos alimentos para
combater patologias. Um número elevado de pessoas sofre de síndrome metabólica,
e esperamos poder evitar esse mal utilizando apenas alimentos, sem necessidade
de medicamentos”, diz Klimis Zacas, um dos autores do estudo e pesquisador de
nutrição clínica da Universidade do Maine.
O consumo da fruta fresca é o ideal para se obter os
benefícios, ressalta Eric Rimm, professor da Faculdade de Saúde Pública de
Harvard. Ele lembra que, devido às evidências cada vez mais robustas sobre as
qualidades do mirtilo, a indústria de suplementos tem lançado no mercado
versões do alimento em cápsula ou em pó. De acordo com o médico, esses produtos
são desnecessários. “Para proteger a saúde cardiovascular, não há nada como
ingerir a fruta fresca. Incluir o mirtilo ou o morango, também rico em
flavonoides, na dieta é muito melhor do que tomar uma cápsula. Você pode
colocar na salada, bater um suco, misturar com cereais ou comer com iogurte.
Não há porque consumi-la como uma pílula, prefira a comida que, além de tudo, é
bem mais gostosa”, diz.
uai.com.br/