O herói que nadou contra a morte
Em 16 de setembro de 1976, Yerevan parou. Um trolleybus abarrotado de passageiros despencou de um dique e afundou nas águas turvas do lago. Testemunhas viram apenas o choque, o silêncio e as bolhas subindo. Quem passava por perto era Shavarsh Karapetyan, 23 anos, campeão mundial de natação com nadadeiras, que havia acabado de encerrar um treino exaustivo de 21 quilômetros.
Ele não pensou duas vezes. Correu, despiu-se e mergulhou na lama líquida. Lá embaixo, a escuridão era total. O ônibus, fechado por todos os lados, tornara-se um caixão coletivo. Com os pés, Karapetyan arrebentou a janela traseira, cortando-se gravemente. Durante vinte minutos, mergulhou repetidas vezes, retirando 37 passageiros. Desses, 20 sobreviveram. Outros nove conseguiram escapar pela abertura que ele criara.
Saiu da água destroçado: pneumonia, septicemia, 45 dias de hospital, sequelas que destruíram seus pulmões e puseram fim à carreira esportiva. Ainda assim, antes de se despedir das piscinas, estabeleceu o 11º recorde mundial.
A vida não lhe pediu apenas uma prova de coragem. Em 1985, diante do incêndio no Complexo Esportivo Karen Demirchyan, Shavarsh correu de novo para as chamas e salvou mais vítimas à custa de novas queimaduras, de mais tempo no hospital, de mais dor.
Hoje, ele é lembrado como herói na Armênia, condecorado pela União Soviética, e até um asteroide leva seu nome. Mas sua maior conquista não foi medida em medalhas nem em recordes. Foi medida em respirações retomadas homens, mulheres e crianças que voltaram à vida porque ele se recusou a assistir à morte em silêncio.
Texto de Paulo Henrique Máximo Lacerda – A História Esquecida
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