AS PESSOAS NÃO SABEM MAIS SE COMUNICAR
SEM UM I-PHONE.
As pessoas perderam a capacidade de se
comunicar ao vivo e a cores nessa época da comunicação. Por isso só encontram os amigos se os
celulares forem junto. Ninguém mais quer saber de papo, que agora é transmitido
por escrito através dos aparelhos, embora várias pessoas se reúnam lado á lado
numa mesa de bar. Mudos. Riem, se divertem, olhando as mensagens, mas falar que
é bom, nada.
Fotografar os amigos também saiu de
moda. O quente é se possuir uma câmera selfie com um pau de selfie que só
fotografam você mesmo embora pessoas variadas estejam, praticamente, coladas a
você.
Entendo que esse novo costume não surgiu
do nada, que existe uma barra pesada nas relações humanas.
Quando o Julio Bressane filmou “Matou a
família e foi ao cinema”, tomamos o título, na época, como um deboche, uma
piada. Hoje é rara a noite que não se veja no jornal da TV que a mulher matou o
marido, o filho matou a mãe,a avó matou os netos e todos foram pro cinema assim
como os políticos que vão condenados e na semana seguinte já estão sorrindo
câmeras na rua e dando adeus antes de
irem ao cinema ou passearem no carro de algum ladrão fazendo hora pra sessão
das dez.
O fato é que hoje em dia foge-se do
outro como o diabo da cruz.O outro é a verdadeira ameaça. Real. Não
psicológica, como afirmava Sartre: “ o inferno são os outros.”
O outro, agora, é sinônimo de perigo
iminente e a gente passa a vida se protegendo do outro, se isolando do outro,
sofrendo de uma absurda solidão por causa do outro. Bons tempos aqueles em que
minha avó dizia: “Cada ônibus que eu pego é um amigo que eu faço.” Agora as
avós se despedem dos netos com lágrimas nos olhos, ao entrar nos ônibus por que
esta pode ser sua última viagem.
Claro, é o outro que puxa o revólver pra
você, é o outro que te rouba, é o outro que te avilta cobrando impostos
extorsivos. O mundo parece que virou um lugar contra o ser humano.
Mas como viver sem o outro, se nem Adão conseguiu isso no paraíso, pedindo a Deus que lhe desse uma companheira?
Mas como viver sem o outro, se nem Adão conseguiu isso no paraíso, pedindo a Deus que lhe desse uma companheira?
Já fui assaltada várias vezes mas não
vou deixar de gostar do outro, de ter amigos e sair com eles, de preferência,
sem celulares .
Quando abri o portão de casa pra uma
jovem negra com uma criança nos braços que me pediu comida, chorando, mandei-a
esperar, fui lá dentro e voltei com o que ela me pediu. A moça ficou tão
espantada que não conseguia agradecer. Olhava pra mim e pra sacola que eu dei
pra ela e me perguntava:
“Como? Isso é pra mim?” Impressionada
com a idéia de eu ter falado com ela, isto é, com o outro. Contou-me então do
marido assassinado numa obra onde trabalhava, em Belfort Roxo, o que forçou-a a
vir pedir ajuda na zona sul. Então fiquei pensando como seria bom se eu pudesse
dizer: “fica aí com o menino, tem muitos quartos vazios . Mas, claro, isso
seria loucura. Então fiquei sozinha, vagando pela casa e ouvindo o menino
chorar lá fora, na chuva, pelo simples fato de eu não poder abrir a minha porta
pro outro.
Maria
Lúcia Dahl, atriz, escritora e
roteirista.
Participou de mais de 50 filmes entre os quais – Macunaima, Menino
de Engenho, Gente Fina é outra Coisa – 29 peças teatrais destacando-se- Se
Correr o Bicho pega se ficar o bicho come – Trair e coçar é só começar- O
Avarento. Na televisão trabalhou na Rede Globo em cerca de 29 novelas entre as
quais – Dancing Days – Anos Dourados – Gabriela e recentemente em – Aquele
Beijo. Como cronista escreveu durante 26 anos no Jornal do Brasil e algum tempo
no Estado de São Paulo. Escreveu 5 livros sendo 2 de crônicas – O Quebra Cabeça
e a Bailarina Agradece-, um romance, Alem da arrebentação, a biografia de
Antonio Bivar e a sua autobiografia,- Quem não ouve o seu papai um dia balança
e cai. Como redatora escreveu para o Chico Anisio Show.Como roteirista fez
recentemente o filme – Vendo ou Alugo – vencedor de mais de 20 premios em
festivais no Brasil.