Mário Américo, o guardião da Seleção
Houve um dia, em Buenos Aires, 1959, em que o futebol tirou licença e deixou o palco para aquilo que a América do Sul pratica com devoção quase religiosa: transformar um jogo em tumulto épico. Brasil x Uruguai virou faroeste. O 3 a 1 brasileiro, com três gols de Paulo Valentim, virou detalhe menor diante da pancadaria que engoliu o Monumental. E, para completar o roteiro, o Brasil ainda terminaria vice, derrotado pela Argentina dias depois, como se o próprio continente exigisse um desfecho dramático.
A explosão começou aos 40 minutos do primeiro tempo. Almir Pernambuquinho caiu após trombar com o goleiro Leiva e, no chão, virou alvo da habitual “delicadeza” uruguaia provocações, empurrões e um deboche ancestral. Pelé, com seus 18 anos, correu para defendê-lo. Foi empurrado. Orlando Peçanha reagiu como todo zagueiro brasileiro devolvendo tudo multiplicado.
Foi quando o esporte evaporou. O gramado virou campo de batalha. Jogadores, reservas, comissões técnicas entraram em campo. No centro desse vendaval surgiu ele: Mário Américo, o massagista que jamais aceitou o papel tímido de massagista. Com ataduras num bolso e coragem de estivador no peito, invadiu o campo como quem protege um patrimônio nacional e aplicou no capitão uruguaio William Martínez uma chave de braço que entraria para o folclore da Seleção. O zagueiro saiu com hematomas; Mário Américo, com mais um capítulo para sua lenda.
Ao redor dele, Bellini sangrava, Castilho abria o supercílio e Didi o príncipe da elegância, a Folha Seca encarnada terminava dando vaodora e com uma contusão no rosto.
A briga durou mais de vinte minutos. Depois, como se tudo fosse apenas um pequeno intervalo, o jogo recomeçou. O Brasil não levou o título, mas Mário Américo saiu como mito maior.
Porque ele não foi só o homem da maca. Foi o guardião da Seleção. Em 1956, em praga, invadiu o campo para protestar contra a violência tcheca. Em 1966, na Inglaterra, acabaria expulso tentando defender os brasileiros da brutalidade portuguesa. No fim das contas, Mário Américo cuidava dos músculos, do espírito e via os jogadores como se fossem seus filhos amados.

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