Ele foi temido, obedecido e odiado — três rostos de um mesmo homem.
Em 1880, na poeirenta cidade de Bisbee, o xerife Dale Kersey governava com um distintivo que representava tudo, menos a lei. Transformara a justiça em negócio, extorquindo mineiros e colonos por cada moeda que tinham. O seu sorriso era mais afiado que o ferro no coldre.
Quando uma jovem viúva não pôde pagar sua “taxa de proteção”, Kersey mandou incendiar sua casa — e os gritos dela se perderam nas chamas que devoraram a última lembrança do marido. A partir daquela noite, os moradores abaixavam o olhar quando ele passava, temendo cruzar os olhos do homem que usava a estrela como símbolo de terror.
Mas a justiça — silenciosa, paciente — sempre encontra o caminho de volta.
Algumas semanas depois, um único envelope dobrado foi deixado sob a porta do xerife: um cartaz de procurado, com o rosto dele próprio, e uma recompensa escrita em uma só palavra: “Justiça.”
Kersey riu, serviu-se de uísque e prometeu aos seus homens que o autor da afronta terminaria na forca. Lá fora, trovões ecoavam pelo cânion, e a chuva caía pesada sobre o deserto.
Então, um único disparo rompeu a noite — seco, certeiro, final.
Ao amanhecer, o corpo do xerife estava caído sobre a mesa, uma bala cravada na estrela de estanho em seu peito.
Não havia pegadas na lama. Nenhum olhar testemunhou a mão que puxou o gatilho.
A pistola repousava ao lado, fria, e o cartaz de procurado ainda tremulava na parede, molhado pela chuva.
A viúva nunca mais falou daquela noite.
Mas em Bisbee, ainda sussurram que o deserto cumpre suas promessas — e que o acerto de contas do xerife Dale Kersey veio de um lugar mais profundo do que qualquer lei humana.

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