Bruce Willis era uma aposta improvável em Duro de Matar. Conhecido por uma série de comédia romântica, viu seu rosto ser apagado dos primeiros cartazes do filme porque o público ria só de vê-lo em algo "sério". Ele mesmo estava esgotado, gravando duas produções ao mesmo tempo, e só conseguiu o papel porque a gravidez de Cybill Shepherd pausou as gravações de A Gata e o Rato. Mesmo assim, ganhou 5 milhões de dólares — um recorde — e teve à sua disposição 17 camisetas em diversos estados de destruição. A roupa, como o personagem, ia se desfazendo à medida que a história avançava. Mas a confiança do estúdio, o timing do acaso e a ironia natural de Willis deram ao herói uma nova face: suada, machucada, sarcástica e inesquecível.

Aquele edifício de aço, concreto e vidro, ainda em construção, abrigaria, anos depois, o escritório de Ronald Reagan. Mas antes de ser confundido com cena de crime por agentes do serviço secreto que encontraram cápsulas de bala espalhadas por seus andares, o Nakatomi Plaza explodiu. Literalmente. Com fogo real, dinamite controlada e helicópteros rasgando o céu de Los Angeles. Não era cenário de estúdio, era um arranha-céu de verdade, usado com a mesma ousadia que se exigia de John McClane pulando de um duto de ventilação com uma mangueira amarrada na cintura. O prédio pertencia à própria 20th Century Fox, então ninguém reclamou muito quando os escritórios administrativos continuaram funcionando entre um tiroteio e outro — contanto que os barulhos parassem após o expediente.

O roteirista Jeb Stuart andava pelo prédio como uma criança anda em um parque de diversões. Qualquer carroça abandonada, qualquer escada de manutenção era transformada em cena de ação. Ali mesmo, no concreto rude, nasceu o esqueleto de Duro de Matar, uma das obras mais improváveis e influentes do cinema de ação. A produção foi uma montanha-russa de improvisos e ajustes narrativos, de um percurso cuidadoso entre o criativo e o inusitado. O diretor de fotografia ficou preso num elevador — e dessa experiência brotaria, anos depois, a abertura de Velocidade Máxima. 

Alan Rickman, astro do teatro londrino, que havia desembarcado em Hollywood há dois dias, quase recusou ser Hans Gruber. "Não vou fazer um filme de ação". Felizmente, foi convencido. Bonnie Bedelia, intérprete da ex-esposa de McClane, relembrou anos depois que, sempre que pensava no filme, a primeira imagem que surgia era Rickman. Os dois almoçavam juntos todos os dias. Ela falou da gentileza, da elegância do colega. O mesmo que, com olhos frios e sotaque cortante, nos deu um dos maiores vilões do cinema. A famosa cena da luta com Willis não foi ensaiada. O diretor preferiu o risco da espontaneidade, e o resultado foi surpreendente, cheio de nuances que nenhum ensaio poderia entregar. 

Quando Duro de Matar chegou aos cinemas, em 1988, converteu-se de piada em fenômeno. Inspirou uma nova linguagem para o gênero e deu origem a incontáveis imitações e franquias. O prédio ainda está lá, em Century City, e, embora o tempo tenha passado, os ecos das explosões, os tiros ensaiados após o expediente e os sorrisos entre os almoços continuam a vibrar nos corredores de concreto. Um filme nascido do acaso e moldado pelo improviso, que ainda habita o imaginário de quem vê um arranha-céu à noite e se pergunta se haveria um tira maluco rastejando por dutos escuros.
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