A VIOLÊNCIA NO DF E COMO
COMBATE-LA.
Dos bolsões de pobreza à região
central, a insegurança domina a cidade. E o ano de 2014 começou com uma média
de setenta crimes por dia apenas no Plano Piloto. 2015 vai no mesmo ritmo.
No topo da pirâmide dos crimes que
assaltam a paz dos candangos, os homicídios aumentaram, se comparados os dados
de janeiro deste ano com o mesmo período de 2013. Desde o início de 2014, 66 pessoas foram assassinadas, dezessete a mais que
no mesmo período doze meses atrás. De 2012 a 2013, os crimes para cada 100 000
habitantes diminuíram de 29,4 para 25,6. Também houve queda de 40,9% no índice
de latrocínios.
Em contrapartida, a cidade ficou exposta a uma série de outras
ocorrências que engrossam as estatísticas, apavoram os moradores e expõem a
falta de controle das autoridades. Em apenas vinte dias do ano, 1 447 crimes
foram cometidos somente nas asas Sul e Norte e na região central, a menos de
cinco minutos dos palácios onde despacham a presidente da República e o
governador do DF. São ocorrências como furto a veículos, assaltos,
sequestros-relâmpago e roubo a residências (confira os principais números no
quadro abaixo).
O mapa do crime no DF
Entre 2012 e 2013 o número de homicídios
diminuiu, mas os atos ilegais contra o patrimônio aumentaram muito
Menos mortes
A incidência dos chamados crimes
contra a vida diminuiu no último ano em relação a 2012. Em janeiro, no entanto,
ocorreram, em média, dois assassinatos por dia, índice que assombra os
moradores.
Espalhada pelos bolsões de pobreza
do DF e cada vez mais inserida no Plano Piloto, a criminalidade atingiu
patamares vergonhosos nos últimos meses. VEJA BRASÍLIAteve acesso a dados que
revelam, em um passado recente, aumento superior a 1 200% nos registros de
crimes contra o patrimônio dos cidadãos. Em setembro do ano passado foram
registrados 1 664 roubos a pedestres, 749% a mais que no mesmo período do ano
anterior. No caso de furtos em veículos, a incidência cresceu nada menos que
1 276%. Tão impressionante quanto os ataques a residências, com acréscimo de
1 050%. Os porcentuais são assustadores e foram pinçados pelos próprios
gestores da Secretaria de Segurança para ser apresentados ao governador Agnelo
Queiroz (PT) na quinta-feira (23), durante a primeira grande reunião do ano
sobre o tema.
Estatísticas do segundo semestre de
2013 indicam que os crimes contra o patrimônio atingiram patamares
assustadores, com crescimento de mais de 1 200% em casos como roubos e furtos
Pontos convergentes nas experiências de sucesso
No início dos anos 90, as cidades
de Medellín e Bogotá, na Colômbia, eram consideradas as mais violentas do
mundo. Dez anos depois, tornaram-se laboratórios da paz. Em 2001, a Restinga,
bairro periclitante de Porto Alegre, conseguiu zerar a taxa de homicídios em
apenas seis meses. Há quinze anos, Diadema, na Grande São Paulo, tinha índices
de violência iguais aos de um país em guerra civil. Dois anos atrás, o
município paulista registrou 37 assassinatos, um recorde positivo. Belo
Horizonte, Recife e Vitória também implantaram programas de segurança que
fizeram seus responsáveis estufar o peito ao exibir os resultados. As
experiências bem-sucedidas ainda são frágeis ilhas de excelência, sem escala
nacional. Contudo, todas têm elementos em comum. Nelas, a prevenção e a
repressão ao crime são acompanhadas por projetos sociais. Só polícia não basta.
Conhecidas como “segurança pública com cidadania”, as ações exitosas integraram
escolas, médicos da família, conselho tutelar, defensoria e Ministério Público.
As polícias Civil e Militar, conhecidas por suas desavenças, afinaram suas
estratégias e passaram a compartilhar dados. Numa força-tarefa, com metas bem
definidas, todos trabalham em rede para garantir o direito de ir e vir do
cidadão. A guarda tem de ser trocada, valorizada, mais bem remunerada e
qualificada para obter a confiança da população, que, por sua vez, deve
cooperar. Nessa luta contra o crime, o Estado precisa oferecer alternativas
interessantes aos jovens. Os casos bem-sucedidos contaram com a boa vontade de
todos os envolvidos. Mas a boa vontade apenas não basta. Tem de meter a mão na
massa.
Na tentativa de explicar uma
difícil equação para os moradores do DF, o secretário de Segurança, Sandro
Avelar, dizia que que esses números podem ter sofrido algum tipo de distorção. Ele
lembra que a greve da Polícia Civil no fim de 2012 comprometeu a atuação de um
dos braços de segurança da cidade. Quando delegados e agentes suspendem as
investigações, abrem brechas para o aumento da criminalidade. De braços
cruzados, deixam, também, de registrar ocorrências, o que pode refletir em
diminuição dos indicativos. Mas há outras variáveis que explicam o cenário de
faroeste caboclo no DF. A operação tartaruga da Polícia Militar, iniciada em
outubro, é uma delas. Tratada até então com reserva pelas autoridades, a medida
foi escancarada em outdoors nos últimos dias. Em propagandas superlativas, os
próprios integrantes da corporação anunciam a medida de fazer corpo mole como
estratégia para pressionar por isonomia salarial com os policiais civis, que
começam a carreira ganhando 7 900 reais e chegam, no caso dos delegados, à
remuneração de até 22 000 reais. Na Polícia Militar, um cabo recebe 4 100 reais
e um coronel, 15 000 reais. Durante alguns anos, a PM do DF foi a mais bem paga
do país. Hoje, sete estados, entre os quais São Paulo, Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul, são mais generosos com seus militares. “Entendo a luta deles,
mas não enxergo um parâmetro entre a complexidade da função desempenhada por um
policial civil e a natureza das tarefas do policial militar, embora ambas as
forças sejam de grande importância para garantir a segurança pública”, opina
André Rizzo, vice-presidente do Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol).
Blog Chiquinho Dornas