A CADA 90 MINUTOS, ALGUÉM É ENVENENADO POR UM AGROTÓXICO NO BRASIL. 
COMER TAMBÉM É UM ATO POLÍTICO.

 SILVIO TENDLER E O FILME.


O filme “O veneno está na mesa 2″ traz à tona uma encruzilhada.

Para o diretor do documentário, Silvio Tendler – que tem no currículo “Jango” e “Cidadão do mundo”,  sobre Josué de Castro – está mais do que na hora de o pais fazer uma escolha entre dois caminhos: uma alimentação saudável fruto de uma agricultura familiar ou um modelo com base no agronegócio calcado no trinômio monocultura, baixa empregabilidade e agrotóxicos.

     - Eu comecei a entender o peso da alimentação na vida das pessoas quando soube que tenho diabetes. A partir daí, me dei conta de como o a comida pode levar doenças às pessoas. O  filme “O veneno está na mesa 1″  foi um alerta, mas o de agora traz uma alternativa. Ele te leva a escolher em que mundo você quer viver.  
É agora ou nunca mais.
     O filme acaba de ser disponibilizado no YouTube. Ele foi exibido pela primeira vez em sessão lotada por mais de 600 pessoas no Teatro Casa Grande, no Rio, no dia 16 de abril. 
A sessão foi dedicada às cinco mil pessoas removidas do terreno da empresa Oi, no Engenho Novo, Zona Norte do Rio de Janeiro, que até hoje estão sem moradia.  
Antes do início do debate pós-filme, o diretor foi aplaudido de pé. O longa suscitou uma ótima discussão inspirada em cenas registradas em diferentes cidades brasileiras, onde a agricultura familiar tem sido pressionada em seu território e seus modos de vida pelo agronegócio. 
Há situações tão conflitantes que beiram o absurdo, como aviões de empresas pulverizando suas plantações e, ao mesmo tempo, lançando agrotóxicos em escolas e em culturas de pequenos produtores que não usam nenhum tipo de veneno.
       Um dos relatos do documentário é o de uma agricultora que teve um quadro grave de depressão que, ao que tudo indica, foi provocado pelo excesso de exposição a agrotóxicos em longo prazo. O que mais assusta, porém, é exatamente o fato de que não se trata de um caso isolado. Existe um grande problema de subnotificação de contaminações por este tipo de substância, mas, aos poucos, cada vez médicos diagnosticam mais casos de intoxicações e até câncer entre os trabalhadores do campo.
     Luiz Cláudio Meirelles, da Fiocruz, que participou de debate logo após a exibição, lembrou que, recentemente, a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária liberou o uso de dois novos insumos químicos já banidos de outros países. No total, as megaplantações brasileiras contam com 14 tipos de agrotóxicos proibidos em outras nações.
     A batalha contra os produtos químicos na agricultura, que conta com mais de 80 entidades da sociedade civil na Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, tem adversários de grande peso econômico e político. Por um lado, desde a década de 1960, com a chegada da Revolução Verde ao Brasil e seu pacote tecnológico que aparelhou e endividou pequenos agricultores, a produção de alimentos foi cada vez mais inserida na lógica do capital internacional, calcada também no monopólio.
Para se ter uma ideia, no Brasil, há 130 empresas que comercializam sementes modificadas e agrotóxicos, sendo que seis delas – Monsanto, Dow, Bayer, Basf, Syngenta e Dupont – controlam 68% do mercado. 
A concentração torna a vida dos agricultores familiares cada vez mais difícil. Além disso, no campo político o direito dos grandes latifundiários também fica assegurado. 120 deputados federais defendem os interesses de grandes fazendeiros – cerca de 40 mil pessoas – no Congresso Nacional.   Enquanto isso, aproximadamente 10 parlamentares representam mais de 12 milhões de pessoas que dependem da agricultura familiar e garantem os alimentos que chegam à mesa dos brasileiros.
Entrevistado no filme, o colombiano Miguel Altieri ressalta que a maior parte da produção agrícola de grandes empresas é para exportação.
     - A monocultura produz apenas 30% dos alimentos que comemos. A agricultura camponesa é responsável por 70%. Precisamos dar mais atenção a ela.
      Diferentemente do primeiro volume do “Veneno está na mesa”, nesta nova produção o cineasta aborda não apenas o impacto da agricultura convencional na vida dos brasileiros, mas vai além e mostra alternativas dentro da agricultura familiar que já estão em curso no território brasileiro, como o cultivo orgânico, a agroecologia e os sistemas agroflorestais. No Rio de Janeiro, por exemplo, há um circuito de feiras – orgânicas, agroecológicas e da roça – onde as pessoas podem buscar alimentos mais saudáveis e produzidos de forma mais justa também para os trabalhadores do campo, ampliando os meios de comercialização, aproximando produtor e consumidor e reduzindo os circuitos de distribuição dos alimentos.
     Mas a transição no Brasil tem sido difícil. O que está em disputa são modelos econômicos bem distintos. Um caso que ilustra isso é o da Chapada do Apodi, no Rio Grande do Norte, onde, segundo dados do filme, 13 mil hectares foram desapropriados por decreto da presidente Dilma Rousseff em prol do agronegócio, em detrimento da produção agroecológica da qual sobrevivem milhares de famílias.
     Pela forma como atua no território, em total desrespeito às populações, este modelo de desenvolvimento, cujos tentáculos aparecem não apenas na agricultura, está em xeque. O momento é o do conflito e não se pode deixar de tomar partido nesse caso. Comer também é um ato político.
O Veneno Está Na Mesa I



     Filme de um dos maiores documentaristas do Brasil, Silvio Tendler, mostra o cenário assustador que se encontra o país em relação ao uso indiscriminado de agrotóxicos. O documentário mostra o perigo a que a população está exposta por conta do emprego de agrotóxicos na agricultura, e como este modelo beneficia as grandes transnacionais do veneno em detrimento da saúde da população. A população engole os produtos envenenados e as empresas ficam com os lucros.
     E, além da população, que consome os alimentos oriundos da produção agrícola, trabalhadores que manipulam os venenos também estão à mercê da contaminação e prejuízos com a saúde.
     Você sabia que o Brasil é o país que mais pulveriza agrotóxicos nos alimentos? Que é o recordista em consumo desses químicos?
Que um brasileiro consome em média 5,2 litros de agrotóxicos anuais?
Que os agrotóxicos provocam uma série de problemas de saúde, desde lapso de memória em crianças até má formação dos fetos?
Que apesar do Governo tentar proibir uso de muitos químicos, a justiça concede liminares a favor das grandes corporações químicas?
Que para conseguir crédito junto aos bancos o pequeno trabalhador é obrigado a usar transgênicos e pesticidas? Que as doenças provocadas por esses químicos nos trabalhadores do campo consomem 1,8% do PIB em tratamentos médicos?


O Mundo segundo a Monsanto


     O documentário "O Mundo segundo a Monsanto", traça a história da principal fabricante de organismos geneticamente modificados (OGM), cujos grãos de soja, milho e algodão se proliferam pelo mundo, apesar dos alertas de ambientalistas.
A diretora, a francesa Marie-Monique Robin, baseou seu filme - e um livro de mesmo título - na empresa com sede em Saint-Louis (Missouri, EUA), que, em mais de um século de existência, foi fabricante do PCB (piraleno), o agente laranja usado como herbicida na guerra do Vietnã, e de hormônios de aumento da produção de leite proibidos na Europa.
     O documentário destaca os perigos do crescimento exponencial das plantações de transgênicos, que, em 2007, cobriam 100 milhões de hectares, com propriedades genéticas patenteadas em 90% pela Monsanto.
    
   Um capítulo do livro, intitulado "Paraguai, Brasil, Argentina: a República Unida da Soja", relata o ingresso desse cultivo nesses países, que estão hoje entre os maiores produtores do mundo, por meio de uma política de fatos consumados que obrigou as autoridades do Brasil e do Paraguai a legalizar centenas de hectares plantados com grãos contrabandeados.
A legalização beneficiou obviamente a Monsanto, que pôde cobrar assim os royalties por seu produto. 
Direção: Marie-Monique Robin
Duração: 109 Minutos

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