Os fantasmas do Araguaia.
Com a morte esta semana, de um tenente coronel do Exército que depôs e confirmou torturas contra os componentes da formação comunista que combateu o regime militar que imperou no Brasil a partir de 1964, acenderam-se e acirraram-se as discussões, sobre quem errou, quem matou, quem escondeu corpos, e o que pode ou deve ou não ser feito pela comissão da verdade, e voltou-se a hostilizar-se os remanescentes dos governo militares da época dos chamados "Anos de Chumbo".
Com quem, está a razão? Acho que nem o tempo dirá, se é que ela está ao lado de alguém nesta história cheia de mágoas, ressentimentos e desencontros onde se procuram cadáveres, verdades e razões até hoje.
(Karlão-Sam)
Com a morte esta semana, de um tenente coronel do Exército que depôs e confirmou torturas contra os componentes da formação comunista que combateu o regime militar que imperou no Brasil a partir de 1964, acenderam-se e acirraram-se as discussões, sobre quem errou, quem matou, quem escondeu corpos, e o que pode ou deve ou não ser feito pela comissão da verdade, e voltou-se a hostilizar-se os remanescentes dos governo militares da época dos chamados "Anos de Chumbo".
Com quem, está a razão? Acho que nem o tempo dirá, se é que ela está ao lado de alguém nesta história cheia de mágoas, ressentimentos e desencontros onde se procuram cadáveres, verdades e razões até hoje.
(Karlão-Sam)
O ex-guerrilheiro Zezinho do Araguaia segura cartucho de fuzil achado em
área de busca aos corpos desaparecidos
|
Queria vê-lo uma única vez antes de morrer, meu filho."
Foi com esse apelo emocionado que Carmem Navarro, 80 anos, encerrou a carta que escreveu no final do ano passado a Hélio Luiz Navarro Magalhães.
O ex-militante
do PCdoB, codinome Edinho, é dado como morto desde março de 1974, um mês depois
de ter sido preso por militares. A carta de Carmem foi entregue, por
intermediários, a um oficial reformado da Marinha, que garante manter contato
com o ex-guerrilheiro, que estaria vivendo há 40 anos com nova identidade. Dona
Carmem não quis dar entrevista, mas o conteúdo da carta foi confirmado por seu
advogado, Márcio Donnici. Magalhães não seria o único dos desaparecidos da
guerrilha do Araguaia a desfrutar de uma vida clandestina. Luís René da
Silveira, Antônio de Pádua Costa, Áurea Elisa Valadão e Dinalva Oliveira
Teixeira também são apontados como "mortos-vivos" em relatório do
Grupo de Trabalho Tocantins (GTT), formado por militares, pesquisadores e
familiares de desaparecidos políticos.
O núcleo foi criado pelo Ministério da
Defesa para tentar encontrar as ossadas de 69 guerrilheiros mortos pelo
Exército nos anos 70, na região de Xambioá (TO).
Não é de hoje que surgem relatos de que guerrilheiros presos
pelos militares no Araguaia foram poupados das execuções. A maioria foi morta
pelo Exército, que se nega a revelar onde estão os corpos.
A novidade é que o
Ministério da Defesa e a Advocacia-Geral da União (AGU) encaminharam um ofício
à Justiça Federal pedindo que a PF investigue se os cinco ex-militantes do
PCdoB estão vivos. O pedido foi baseado em depoimentos colhidos pelo GTT entre
camponeses e ex-militares. Nenhuma das testemunhas, porém, oferece evidências.
"O que queremos é ter instrumentos legais para avançar na
investigação", diz a pesquisadora Myriam Alves, que integra o GTT. A juíza
Solange Salgado deu parecer favorável ao ofício, mas a Polícia Federal decidiu
não apurar o caso, alegando que se trata de uma investigação administrativa, e
não judiciária.
A investigação tem poucas chances de progredir. Para alguns
familiares de desaparecidos, a iniciativa seria uma tentativa de desviar o foco
da busca pelas ossadas dos guerrilheiros.
José Genoíno quando foi preso
José Genoíno quando foi preso
"É um deboche", diz Beth
Silveira, vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais e irmã de Luís René.
"Não apresentaram uma prova de que possam estar vivos. Isso é uma tortura
para os familiares." A ministra Maria do Rosário, da Secretaria Especial
de Direitos Humanos, vai na mesma linha. "Trabalhamos com a convicção de
que os desaparecidos foram executados e tiveram seus corpos subtraídos. Vamos
continuar essa busca se houver informação precisa, não só para jogar
confusão."
Os desaparecidos da guerrilha do Araguaia
Cerca de metade dos desaparecidos políticos de que se tem
denúncia foram sequestrados e mortos no sul do Pará durante a guerrilha do
Araguaia entre 1972 e 1974.
Esta região compreende uma área de 6.500 km2 entre
as cidades de São Domingos e São Geraldo, às margens do rio Araguaia.
Havia na
região uma população de aproximadamente 20 mil habitantes e nela atuaram 69
guerrilheiros militantes do PC do B (Partido Comunista do Brasil) e, cerca de
17 camponeses que se integraram ao movimento.
O governo utilizou homens do
Exército, Marinha, Aeronáutica, Polícia Federal e Polícia Militar do Pará,
Goiás e Maranhão para combatê-los.
Considerando a quantia desproporcional das
forças em conflito e os relatos dos habitantes, deve ter havido mais vítimas
fatais do que as registradas até hoje.
Grande parte das informações acerca dos desaparecidos do Araguaia advém do relatório de Angelo Arroyo apreendido pelos órgãos de repressão quando do "Massacre da Lapa" em dezembro de 1976. Nesta operação foram mortos os dirigentes do PC do B Angelo Arroyo, Pedro Ventura Felipe de Araújo Pomar e João Batista Franco Drummond.
Grande parte das informações acerca dos desaparecidos do Araguaia advém do relatório de Angelo Arroyo apreendido pelos órgãos de repressão quando do "Massacre da Lapa" em dezembro de 1976. Nesta operação foram mortos os dirigentes do PC do B Angelo Arroyo, Pedro Ventura Felipe de Araújo Pomar e João Batista Franco Drummond.
Os familiares dos guerrilheiros do Araguaia
iniciaram, em 1982, uma ação judicial para exigir da União esclarecimentos
sobre as circunstâncias das mortes de seus parentes e a localização dos corpos.
Em 17 de agosto de 1993, a Justiça julgou procedente o recurso impetrado pelos
autores para que o mérito da ação fosse julgado, pois não havia nenhuma
solicitação de sigilo por parte das Forças Armadas e a lei da anistia não
obstruía o direito à verdade contido nas solicitações dos familiares. Até hoje
o mérito da ação não foi julgado.
Em junho de 1995, considerando esgotados os
recursos, os familiares, através da Human Rights Watch e o Centro pela Justiça
e o Direito Internacional (CEJIL) enviaram petição à Corte Interamericana de
Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), onde ainda está
em tramitação.
Em outubro de 1980, os familiares dos guerrilheiros mortos no Araguaia percorreram a região em busca de informações a respeito de cemitérios clandestinos. Esta foi a primeira caravana realizada por familiares para colher informações sobre a guerrilha, as circunstâncias das mortes e a localização dos restos mortais dos guerrilheiros. Constataram indícios de corpos enterrados no cemitério de Xambioá e da existência de uma vala clandestina numa área denominada Vietnã, próxima àquela cidade. Colheram depoimentos também sobre a existência de cemitérios clandestinos em Bacaba, São Raimundo, São Geraldo, Santa Isabel, Caçador e Oito Barracas.
Em abril de 1991, familiares promoveram escavações no cemitério de Xambioá, onde encontraram duas ossadas: a de uma mulher jovem envolta em tecido de pára-quedas e a outra de um homem idoso. Uma equipe composta pelo Dr. Badan Palhares participou das escavações e transferiu as ossadas para o Departamento de Medicina Legal da UNICAMP.
Em outubro de 1980, os familiares dos guerrilheiros mortos no Araguaia percorreram a região em busca de informações a respeito de cemitérios clandestinos. Esta foi a primeira caravana realizada por familiares para colher informações sobre a guerrilha, as circunstâncias das mortes e a localização dos restos mortais dos guerrilheiros. Constataram indícios de corpos enterrados no cemitério de Xambioá e da existência de uma vala clandestina numa área denominada Vietnã, próxima àquela cidade. Colheram depoimentos também sobre a existência de cemitérios clandestinos em Bacaba, São Raimundo, São Geraldo, Santa Isabel, Caçador e Oito Barracas.
Em abril de 1991, familiares promoveram escavações no cemitério de Xambioá, onde encontraram duas ossadas: a de uma mulher jovem envolta em tecido de pára-quedas e a outra de um homem idoso. Uma equipe composta pelo Dr. Badan Palhares participou das escavações e transferiu as ossadas para o Departamento de Medicina Legal da UNICAMP.
Em janeiro de 1993 familiares voltaram à região da
guerrilha, na Fazenda Oito Barracas, procurando pelos restos mortais de
Helenira Resende, sem obter resultados.
Antropólogos
usam uma espécie de radar de solo para localizar corpos em Xambioá (Foto:
Teresa Sobreira/Ministério da Defesa)
A partir do dia 28 de abril de 1996 o jornal O Globo publicou uma série de
reportagens sobre a guerrilha do Araguaia com fotos inéditas de guerrilheiros
mortos e a localização de sete cemitérios clandestinos. Tais indícios
reforçaram as informações dos familiares de desaparecidos, que solicitaram à
Comissão Especial de Reconhecimento de Mortos e Desaparecidos Políticos uma
investigação. Na reportagem de O Globo, Laura Petit, irmã de Maria Lúcia Petit
da Silva, a identificou na foto da guerrilheira morta envolta em um
pára-quedas. Com os dados da foto, os legistas da UNICAMP reabriram o processo
de identificação da ossada exumada em 1991 e identificaram Maria Lúcia.
A Comissão Especial do Ministério da Justiça promoveu a "Primeira Missão de Busca de Restos Mortais" entre os dias 7 e 11 de maio de 1996 baseando-se nas informações de O Globo e do Relatório sobre Cemitérios da Região do Araguaia da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. Esta investigação teve a participação do antropólogo forense Luis Fondebrider, da Equipe Argentina de Antropologia Forense; de Cristiano Morini, assistente da Comissão Especial e Criméia de Almeida, assessora de Suzana Lisbôa na Comissão Especial. A equipe localizou e preservou três áreas com cemitérios clandestinos: no cemitério municipal de Xambioá, no DNER (Departamento Nacional de Estradas e Rodagens) de Marabá e na Fazenda Fortaleza, próxima à cidade de São Domingos do Araguaia.
Uma segunda viagem para realizar as escavações nos cemitérios demarcados e localizar outros cemitérios clandestinos foi organizada pela Comissão Especial do Ministério da Justiça e ocorreu entre os dias 29 de junho e 24 de julho de 1996. No cemitério de Xambioá encontrou-se três ossadas, mas somente uma apresenta características de um guerrilheiro. Tal ossada já havia sido encontrada e abandonada no mesmo cemitério pelo Dr. Badan Palhares, em 1991. Em São Raimundo, na Reserva Indígena dos Sororós, recuperou-se duas ossadas de dois prováveis guerrilheiros.
A Comissão Especial do Ministério da Justiça promoveu a "Primeira Missão de Busca de Restos Mortais" entre os dias 7 e 11 de maio de 1996 baseando-se nas informações de O Globo e do Relatório sobre Cemitérios da Região do Araguaia da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. Esta investigação teve a participação do antropólogo forense Luis Fondebrider, da Equipe Argentina de Antropologia Forense; de Cristiano Morini, assistente da Comissão Especial e Criméia de Almeida, assessora de Suzana Lisbôa na Comissão Especial. A equipe localizou e preservou três áreas com cemitérios clandestinos: no cemitério municipal de Xambioá, no DNER (Departamento Nacional de Estradas e Rodagens) de Marabá e na Fazenda Fortaleza, próxima à cidade de São Domingos do Araguaia.
Uma segunda viagem para realizar as escavações nos cemitérios demarcados e localizar outros cemitérios clandestinos foi organizada pela Comissão Especial do Ministério da Justiça e ocorreu entre os dias 29 de junho e 24 de julho de 1996. No cemitério de Xambioá encontrou-se três ossadas, mas somente uma apresenta características de um guerrilheiro. Tal ossada já havia sido encontrada e abandonada no mesmo cemitério pelo Dr. Badan Palhares, em 1991. Em São Raimundo, na Reserva Indígena dos Sororós, recuperou-se duas ossadas de dois prováveis guerrilheiros.
As péssimas condições em que foram encontradas e
a ausência de crânios não permitem que seja realizado o exame de DNA e sua
identificação. Nos demais locais investigados - São Geraldo, Caçador, Oito
Barracas, Serra das Andorinhas, DNER e Fazenda Brasil-Espanha - não foram
encontrados esqueletos. A ossada encontrada em Xambioá está sob investigação da
Polícia Civil de Brasília e, até hoje, nenhuma informação a seu respeito foi
transmitida aos familiares.
Os trabalhos de busca da Comissão Especial comprovaram a possibilidade de se encontrar os restos mortais de um grande número de guerrilheiros do Araguaia, principalmente, se o Exército fornecer os locais onde estão enterrados.
15/12/2010 | O Estado de S. Paulo. Os trabalhos de busca da Comissão Especial comprovaram a possibilidade de se encontrar os restos mortais de um grande número de guerrilheiros do Araguaia, principalmente, se o Exército fornecer os locais onde estão enterrados.
BRASIL FOI
CONDENADO POR TRIBUNAL DA OEA, PELAS MORTES NO ARAGUAIA.
Tribunal concluiu que o Estado brasileiro é responsável pelo
desaparecimento de 62 pessoas, ocorrido entre 1972 e 1974.
A Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou o Brasil por não ter punido os responsáveis pelas mortes e desaparecimentos ocorridos na Guerrilha do Araguaia e determinou que sejam feitos todos os esforços para localizar os corpos dos desaparecidos. O Tribunal concluiu que o Estado brasileiro é responsável pelo desaparecimento de 62 pessoas, ocorrido entre 1972 e 1974.
A Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou o Brasil por não ter punido os responsáveis pelas mortes e desaparecimentos ocorridos na Guerrilha do Araguaia e determinou que sejam feitos todos os esforços para localizar os corpos dos desaparecidos. O Tribunal concluiu que o Estado brasileiro é responsável pelo desaparecimento de 62 pessoas, ocorrido entre 1972 e 1974.
Em uma sentença divulgada, a Corte considerou que as
disposições da Lei de Anistia brasileira não podem impedir a investigação e a
sanção de graves violações de direitos humanos. Para ela, "as disposições
da lei são incompatíveis com a Convenção Americana, carecem de efeitos jurídicos
e não podem seguir representando um obstáculo para a investigação dos fatos do
presente caso, nem para a identificação e punição dos responsáveis".
A decisão, embora refira-se à Guerrilha do Araguaia,
extrapola para outros casos quando a sentença diz que as disposições da lei
"tampouco podem ter igual ou semelhante impacto a respeito de outros casos
de graves violações de direitos humanos". Este entendimento derruba a
decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que considerou que a Lei da Anistia,
de 1979, também beneficia os agentes do Estado que praticaram torturas e
assassinatos.
A sentença da Corte Interamericana foi provocada por três
ONGs brasileiras - Centro Pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL), Grupo
Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro (GTNM-RJ) e Comissão de Familiares de
Mortos e Desaparecidos Políticos de São Paulo (CFMDP-SP) - que protestaram em
nome dos familiares dos mortos e desaparecidos na Guerrilha do Araguaia.
A decisão dos sete juízes estrangeiros e o juiz ad hoc
(determinado) brasileiro determina ao Estado brasileiro "a investigação
penal dos fatos do presente caso (Guerrilha do Araguaia) a fim de
esclarecê-los, determinar as correspondentes responsabilidades penais" e
punir criminalmente os responsáveis. Manda ainda o "Estado realizar todos
os esforços para determinar o paradeiro das vítimas desaparecidas e, se for o
caso, identificar e entregar os restos mortais a seus familiares". Também
dispõe que "o Estado preste atendimento médico e psicológico ou
psiquiátrico", às vítimas que o solicitem.
Nas 126 páginas da decisão, há determinações que certamente
criarão constrangimentos, como a realização de um "ato público de
reconhecimento de responsabilidade internacional, em relação aos fatos do
presente caso, referindo-se às violações estabelecidas na presente
Sentença". Neste ato, segundo a decisão, devem estar presentes "altas
autoridades nacionais e as vítimas do presente caso". Outra determinação é
a da implementação em um prazo razoável de "um programa ou curso
permanente e obrigatório sobre direitos humanos, dirigido a todos os níveis
hierárquicos das Forças Armadas".
Legislação
Na área da legislação, a corte determina que se adote
"as medidas que sejam necessárias para tipificar o delito de
desaparecimento forçado de pessoas, em conformidade com os parâmetros
interamericanos". Estipula ainda que não adianta apenas apresentar o projeto
de lei, mas também "assegurar sua pronta sanção e entrada em vigor".
A decisão determinou ainda que o Estado pague US$ 3 mil
dólares para cada família a título de indenização pelas despesas com as buscas
dos desaparecidos. Estipulou também indenização a titulo de dano imaterial de
US$ 45.000,00 a cada familiar direto e de US$ 15.000,00 para cada familiar não
direto, considerados vítimas no presente caso. Determina também o pagamento
pelo Estado de US$ 45 mil para as três ONGs, cabendo a maior parcela de US$ 35
mil para o Centro pela Justiça e o Direito Internacional, pelos gastos tidos
até hoje com o caso.
www.desaparecidospoliticos.org.br.
(O QUE A VEJA PUBLICOU EM 29-05-2013)
Outubro de 1980 - Familiares dos guerrilheiros vão à região do Araguaia em busca de informações a respeito de cemitérios clandestinos. Foi a primeira caravana realizada por parentes.
1982 - Familiares iniciam uma ação judicial para exigir da União esclarecimentos sobre as circunstâncias das mortes dos guerrilheiros e a localização dos corpos.
Abril de 1991 - Familiares organizam escavações no cemitério de Xambioá, onde encontram duas ossadas.
Janeiro de 1993 - Comissão dos familiares volta à região da guerrilha, na Fazenda Oito Barracas, procurando pelos restos mortais de Helenira Resende, sem obter resultados.
Junho de 1995 - Os familiares, por meio da organização Human Rights Watch e do Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL), enviam petição à Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA).
18 de dezembro de 1995 - É criada no Ministério da Justiça a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, de acordo com a lei 9.140. Fica estabelecida a responsabilidade do Estado nas mortes e nos desaparecimentos de pessoas durante a ditadura.
28 de abril de 1996 - Reportagem do jornal "O Globo" traz fotos inéditas de guerrilheiros mortos e a localização de sete cemitérios clandestinos. Laura Petit, irmã de Maria Lúcia Petit da Silva, identifica a guerrilheira morta em uma das fotos, o que leva à reabertura dos processos de identificação da ossada exumada em 1991.
07 de maio de 1996 - A Comissão Especial do Ministério da Justiça faz a primeira missão de buscas de restos mortais no Araguaia, baseando-se nas informações de "O Globo" e de relatório da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. A investigação contou com a participação da Equipe Argentina de Antropologia Forense e de Criméia de Almeida. Neste mesmo ano, outra expedição foi feita até a região.
10 de junho de 2003 - Sentença da juíza federal Solange Salgado, da 1ª Vara da Justiça Federal em Brasília, determina a procura dos corpos dos desaparecidos no Araguaia e a entrega dos restos mortais às famílias.
05 de março de 2004 - Começam novas buscas por corpos. Dois geólogos da Universidade Federal de Minas Gerais, três antropólogas argentinas, um geneticista, integrantes da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos e familiares das vítimas vão a Xambioá (TO) depois que a revista "Época" publicou declarações de ex-soldados das Forças Armadas sobre possíveis covas. Segundo a Comissão, faltaram pontos de referências que determinassem onde ficava a sede da base do Exército, o que levaria ao cemitério. O grupo não localizou nenhuma ossada.
07 de março de 2004 - O coronel da reserva da Aeronáutica Pedro Corrêa Cabral, que combateu os guerrilheiros e escreveu o livro "Xambioá - Guerrilha do Araguaia" (1993), diz que os corpos de cerca de 40 guerrilheiros foram queimados pelas Forças Armadas para eliminar as evidências do conflito. Segundo ele, os corpos foram localizados e desenterrados antes de serem queimados na serra das Andorinhas.
20 de setembro de 2007 - Familiares ganham o direito de saber o que aconteceu no Araguaia. Decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) obriga a União a quebrar o sigilo das informações militares que tratam das operações de combate à guerrilha e a intimar todos os militares que participaram do episódio a depor. No prazo de 120 dias, também deveria ser informado o local onde estão sepultados os restos mortais dos guerrilheiros, para traslado e sepultamento.
22 de junho de 2009 - Em entrevista ao jornal "O Estado de S.Paulo", Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o major Curió, oficial do Exército no regime militar, revela que dos 67 militantes mortos na Guerrilha do Araguaia, 41 foram executados já rendidos, quando não ofereciam risco às tropas. A versão oficial do Exército é de que todos os guerrilheiros foram mortos em confrontos. Também aparece nos documentos dele uma nova lista de 16 mortos. Segundo a reportagem, o número de combatentes teria chegado a 98, que contavam com o apoio de outros 158 moradores da região.
23 de junho de 2009 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anuncia que vai reunir os ministros Nelson Jobim (Defesa) e Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) para discutir as buscas. Mesmo diante da divulgação do dossiê Curió, Lula diz que todos os arquivos que poderiam ser abertos sobre a ditadura foram liberados.
30 de junho de 2009 - O soldado Raimundo Pereira de Melo diz ter indicado ao então secretário de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, o local onde estariam enterrados dois guerrilheiros.
Um dos corpos seria do médico João Carlos Haas Sobrinho, um dos líderes da guerrilha do PC do B. O outro cadáver não está identificado. É possível que seja do guerrilheiro Ciro Flávio Salazar de Oliveira, morto no mesmo combate que vitimou Haas, em 30 de setembro de 1972. Parte das fotos não é inédita. Algumas já foram publicadas em livros e na imprensa nos últimos 20 anos, mas de forma isolada, sem o encadeamento proporcionado pelos negativos. Agora é possível saber a cronologia dos fatos.
Os negativos estão há 36 anos com o ex-sargento do Exército José Antônio de Souza Perez, 60, que mora em Patrocínio, cidade com cerca de 85 mil habitantes no Triângulo Mineiro. Ele diz tê-los recebido de um colega soldado, do qual não lembra mais o nome. Conta que as fotografias foram batidas no Pará, na margem esquerda do rio Araguaia, em um acampamento improvisado na selva amazônica, onde os dois trabalharam ao longo de 1972.
Procurados pela Folha, o Ministério da Defesa e o Exército informaram que não se pronunciariam sobre as fotos.
A guerrilha rural na região do Bico do Papagaio (sudeste do Pará, sul do Maranhão e norte do então Estado de Goiás, hoje Tocantins) foi organizada pelo então clandestino PC do B, a partir da segunda metade dos anos 60. Iniciada em 1972, a repressão militar terminou três anos depois. Houve poucos sobreviventes. Os historiadores estimam que cerca de 60 guerrilheiros foram mortos pelos militares. Apenas um corpo foi identificado, o de Maria Lúcia Petit, assim mesmo passadas duas décadas da morte.
O recolhimento
O ex-sargento Perez lembra que estava no acampamento quando a equipe que comandava recebeu uma mensagem por rádio. A informação passada era de que em breve seriam levados até o local corpos de guerrilheiros mortos há pouco em confronto.
Os dois cadáveres chegaram ao local conduzidos por fuzileiros navais amarrados pelos pés e mãos em ripas de madeira. Juca foi logo identificado, por causa do diário que carregava. A outra vítima do confronto não tinha qualquer indicação de identidade. Perez nunca soube de quem se tratava.
Para remover os corpos, aterrissou no acampamento um helicóptero militar. Fuzileiros e militares do grupo de Perez trabalharam na preparação dos cadáveres, envoltos em lonas listradas e colocados no aparelho, que decolou em seguida.
Na opinião do ex-sargento, o helicóptero seguiu possivelmente rumo à base militar instalada no campo de pouso de Xambioá, cidade na margem direita do Araguaia, em então área de Goiás. Ele afirma que nunca mais soube dos corpos.
A publicação das fotos ao longo dos anos é um mistério para Perez. Ele imagina que a origem pode ter sido o soldado que bateu as fotografias e era o dono da câmera, levada de modo clandestino para o Araguaia, pois os praças eram proibidos pelo oficialato de registrar cenas de combate.
Ele também presume que, em algum momento, as fotos podem ter sido apreendidas por algum oficial, que, anos depois, as teria divulgado de maneira anônima. Perez ficou com os negativos para tirar cópias de fotos em que posava. Ele conta que, por causa de circunstâncias do trabalho na mata, jamais teve a chance de devolvê-los ao dono.
Xambioá
O cadáver de João Carlos Haas Sobrinho, o dr. Juca, foi visto em Xambioá depois de trazido da selva pelo helicóptero militar, conta a jornalista e pesquisadora Myrian Luiz Alves. Moradores da pequena cidade na margem direita do rio Araguaia -hoje Estado do Tocantins- mostraram a ela até o local do sepultamento.
Em 1972, os militares conseguiram matar oito guerrilheiros, três deles no dia 30 de setembro. Eram Juca, Ciro Flávio Salazar de Oliveira, o Flávio, e Manoel José Nurchis, o Gil.
A revelação dos negativos obtidos pela Folha mostra o corpo que seria de Juca ao lado de um outro, de estatura menor. Dados corporais em poder da pesquisadora indicam que Juca media, quando tinha 18 anos, 1,82 m de altura. Gil media cerca de 1,75 m; Flávio, já adulto, media de 1,65 m a 1,70 m.
De acordo essa medição, o mais provável é que a outra vítima mostrada na foto tenha sido Flávio, mineiro de Araguari, ex-líder estudantil e aluno da da Faculdade de Arquitetura da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Tinha 28 anos quando foi morto.
Nos anos 90 e no início desta década, expedições de parentes e pesquisadores a Xambioá encontraram o local onde Juca teria sido enterrado. Uma ossada chegou a ser retirada da suposta sepultura de Juca em 1996, mas nunca houve conclusão a respeito da identificação desses restos mortais.
Autor de "A Guerrilha do Araguaia: a Esquerda em Armas" (editora UFG, 1997), o historiador Romualdo Pessoa Campos Filho disse à Folha que a descoberta dos negativos que mostram integrantes das Forças Armadas ao lado de dois cadáveres "é um prova contundente de que os militares" estiveram "com os corpos dos guerrilheiros".
Ex-sargento diz ter guardado série por medo de morrer
DO ENVIADO ESPECIAL A PATROCÍNIO (MG)
Lavrador em Patrocínio desde que deixou o Exército, em 1974, o ex-sargento José Antônio de Souza Perez, 60, ainda teme os guerrilheiros. Por isso, e também por desconfiar da reação dos militares, guardou os negativos tanto tempo. (ST)
(O QUE A VEJA PUBLICOU EM 29-05-2013)
A
COMISSÃO DE FRENTE DA MENTIRA: QUEM TEME A VERDADE SOBRE A DITADURA?
O ministro, o general, o
comissário?
O Brasil descobriu nos últimos dias que a tropa de elite dos
altos escalões da República que combate a verdade é mais forte e abusada do que
se imaginava.
Cerram fileiras ali, entre outros, o ministro da Defesa, comandantes do Exército e da Marinha e até mesmo um dos sete ilustres membros da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que deve ser a primeira trincheira de seu resgate perante o país.
Cerram fileiras ali, entre outros, o ministro da Defesa, comandantes do Exército e da Marinha e até mesmo um dos sete ilustres membros da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que deve ser a primeira trincheira de seu resgate perante o país.
As fantasias foram rasgadas, de vez, com a apresentação em
Brasília, na terça-feira (21), do balanço do primeiro ano de atividades da CNV.
Ali, com gráficos e documentos inquestionáveis, a historiadora Heloísa
Starling, da Universidade Federal de Minas Gerais e coordenadora da pesquisa da
CNV, apresentou dados perturbadores sobre a repressão que marcou a ditadura de
1964-85.
Entre eles, a grave acusação de que, em plena democracia, a Marinha
mentiu para o Palácio do Planalto.
Em 1993, o presidente Itamar Franco pediu dados sobre
desaparecidos. A Marinha informou que os presos citados tinham fugido ou
estavam sumidos. Baseada no cruzamento de 12.072 páginas do CENIMAR, o serviço
secreto da Marinha, a equipe de pesquisa da CNV apurou que 11 pessoas daquela
lista estavam mortas até dezembro de 1972 — e a Marinha sabia disso.
Um dos mortos, cujo nome a Marinha sonegou a Itamar Franco, era o ex-deputado Rubens Paiva, preso e desaparecido em janeiro de 1971.
Um dos mortos, cujo nome a Marinha sonegou a Itamar Franco, era o ex-deputado Rubens Paiva, preso e desaparecido em janeiro de 1971.
“É o primeiro documento oficial que diz que Rubens Paiva está
morto. A Marinha brasileira ocultou deliberadamente documentos já no período
democrático”, declarou Starling. A Marinha reagiu no mesmo dia,
burocraticamente, sem desmentir a acusação e sem rebater o que revelam seus
arquivos secretos: “Não há qualquer outro registro nos arquivos desta Força,
diferente daqueles encaminhamos ao Ministério da Justiça em 1993”, gaguejou a
Marinha, em sua inconvincente nota oficial.
Dias antes, quem tropeçou foi o Exército. No sábado, 11 de
maio, o tenente-coronel André Alves, comandante do 2º Regimento de Cavalaria
Mecanizada de São Borja (600 km a oeste de Porto Alegre) informou ao prefeito
Farelo Almeida que o Exército não atenderia seu pedido para fazer a segurança
do túmulo do ex-presidente João Goulart (1919-1976), filho ilustre da cidade e
enterrado há 36 anos no cemitério local, o Jardim da Paz.
A pedido da família
Goulart, a CNV aprovou a exumação dos restos de Jango para esclarecer, com a
ajuda de peritos internacionais, a suspeita de que o ex-presidente foi
envenenado, no exílio, no marco da Operação Condor,
a conexão repressiva que unia as ditaduras do Cone Sul na década de 1970.
O oficial de São Borja disse ao prefeito que o pedido fora
avaliado e negado por seu chefe imediato, o general Geraldo Antônio Miotto,
comandante da 3ºª Divisão de Exército, baseada em Santa Maria.
O general Miotto e o jazigo de Jango: "sem
jurisdição"
O general Miotto e o jazigo de
Jango: "sem jurisdição"
A alegação do general para a recusa soou sobrenatural: “A
área não é jurisdição das Forças Armadas”. Estranho seria se fosse. Exércitos
não existem para patrulhar cemitérios, embora a História mostre que eles
costumem povoá-los com os mortos de guerras ou de golpes de Estado que eles
patrocinam. O general definiu que a missão de vigilância cabia à Brigada
Militar (a força pública estadual) ou à Guarda Municipal, esquecido que a
questão central aqui não é a ‘área’, mas a missão que lhe incumbe neste caso
dos restos mortais de Jango.
Não compete a qualquer general definir que a guarda do
cemitério, neste tema específico, seja encargo do Estado ou do Município. A
decisão de exumar o ex-presidente derrubado em 1964 pelo Exército a que o
general Miotto hoje serve não é preciosismo de lideranças municipais ou de
comandantes estaduais. É uma decisão política do mais alto nível, adotada pela
CNV em Brasília, articulada com a família Goulart e especialistas forenses de
outros países, e que a ninguém mais cabe discutir. Ao Exército, como sempre,
resta cumprir ordens.
Ninguém é ingênuo para imaginar que a recusa institucional do
Exército de dar segurança a esta missão federal seja mero rompante de um
tenente-coronel de São Borja ou de um general de Santa Maria. Pelas implicações
políticas envolvidas, parece óbvio que a recusa tenha sido acertada dentro da
escala de comando. Pela cadeia hierárquica, progressivamente, o general Carlos
Bolívar Goellner (comandante Militar do Sul), o general Enzo Martins Peri
(comandante do Exército em Brasília) e o chefe de ambos, o embaixador Celso
Amorim (ministro da Defesa).
Todas estas estrelas fulgurantes não perceberam o dano
político provocado pelo ‘não’ burocrático da guarnição militar do sul. Seria
tão mais simples atender ao pedido elementar do prefeito, sem apelar para as
tecnicalidades e pretextos jurídicos que só escancaram uma situação
melancolicamente clara: o Exército não é parceiro da CNV e da sociedade
brasileira na luta para descobrir a verdade.
No caso emblemático de Jango, que marca a longa intervenção
militar de duas décadas na vida do país, o Exército perdeu a grande chance
(mais uma) de demonstrar ao país que é uma instituição nacional sem qualquer
amarra a um passado de violência institucional, de subversão constitucional e
de truculência repressiva que enodoam sua farda e sua história. O Exército da
atualidade, como instituição da lei e da ordem constitucional, tem todos os
motivos do mundo para atender sem constrangimentos à sua missão histórica e
assumir os encargos que o Estado Democrático de Direito lhe impõe.
Uma tropa do Exército zelando pela integridade de um
cemitério sob investigação federal de relevante interesse histórico seria uma
demonstração cabal, firme, eloquente, de que este Exército tem apenas o
compromisso com o futuro, não com o passado que muitos tentam negar ou escamotear.
Esta boba recusa de São Borja escancara um incompreensível alinhamento do
Exército do governo Dilma Rousseff, quatro décadas depois, com a postura
ofensiva e indefensável do Exército do Governo Ernesto Geisel.
Um serviu à ditadura de ontem que tremeu ao simples regresso
do presidente, morto, à sua terra natal. O outro serve à democracia de hoje que
ampara a plena investigação sobre a morte suspeita de um presidente respeitado
pelo povo que o elegeu e temido pelo regime que o derrubou. A diferença ostensiva
entre estas duas eras militares está decalcada na ficha impecável dos atuais
comandantes militares do Brasil. Eles, como as tropas que hoje comandam, nada
têm a ver com as truculências cometidas no regime derrocado pela democracia
Texto
de Luiz Cláudio Cunha
ACOMPANHE A CRONOLOGIA DOS FATOS:
Os corpos de João Carlos Haas, o dr. Juca, e de outro guerrilheiro são observados pelo sargento José Antônio de Souza Perez (portador dos negativos das fotos) em 1972. Eles foram encontrados em uma área próxima às margens do rio Araguaia.
ACOMPANHE A CRONOLOGIA DOS FATOS:
Os corpos de João Carlos Haas, o dr. Juca, e de outro guerrilheiro são observados pelo sargento José Antônio de Souza Perez (portador dos negativos das fotos) em 1972. Eles foram encontrados em uma área próxima às margens do rio Araguaia.
Viúva de guerrilheiro, Criméia Almeida repudia busca feita pelo Exército
e diz que segredo sobre arquivos da ditadura é "covardia".
Entre 1972 e 1974 - Durante
três campanhas, as Forças Armadas tentam eliminar a guerrilha. Apenas na última
os militares conseguiram vencer. A ordem do general Emílio Médici, então
presidente do Brasil, era de que as operações militares fossem executadas em
segredo. A censura impediu que a existência da guerrilha fosse divulgada.
Outubro de 1980 - Familiares dos guerrilheiros vão à região do Araguaia em busca de informações a respeito de cemitérios clandestinos. Foi a primeira caravana realizada por parentes.
1982 - Familiares iniciam uma ação judicial para exigir da União esclarecimentos sobre as circunstâncias das mortes dos guerrilheiros e a localização dos corpos.
Abril de 1991 - Familiares organizam escavações no cemitério de Xambioá, onde encontram duas ossadas.
Janeiro de 1993 - Comissão dos familiares volta à região da guerrilha, na Fazenda Oito Barracas, procurando pelos restos mortais de Helenira Resende, sem obter resultados.
Junho de 1995 - Os familiares, por meio da organização Human Rights Watch e do Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL), enviam petição à Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA).
18 de dezembro de 1995 - É criada no Ministério da Justiça a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, de acordo com a lei 9.140. Fica estabelecida a responsabilidade do Estado nas mortes e nos desaparecimentos de pessoas durante a ditadura.
28 de abril de 1996 - Reportagem do jornal "O Globo" traz fotos inéditas de guerrilheiros mortos e a localização de sete cemitérios clandestinos. Laura Petit, irmã de Maria Lúcia Petit da Silva, identifica a guerrilheira morta em uma das fotos, o que leva à reabertura dos processos de identificação da ossada exumada em 1991.
07 de maio de 1996 - A Comissão Especial do Ministério da Justiça faz a primeira missão de buscas de restos mortais no Araguaia, baseando-se nas informações de "O Globo" e de relatório da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. A investigação contou com a participação da Equipe Argentina de Antropologia Forense e de Criméia de Almeida. Neste mesmo ano, outra expedição foi feita até a região.
10 de junho de 2003 - Sentença da juíza federal Solange Salgado, da 1ª Vara da Justiça Federal em Brasília, determina a procura dos corpos dos desaparecidos no Araguaia e a entrega dos restos mortais às famílias.
05 de março de 2004 - Começam novas buscas por corpos. Dois geólogos da Universidade Federal de Minas Gerais, três antropólogas argentinas, um geneticista, integrantes da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos e familiares das vítimas vão a Xambioá (TO) depois que a revista "Época" publicou declarações de ex-soldados das Forças Armadas sobre possíveis covas. Segundo a Comissão, faltaram pontos de referências que determinassem onde ficava a sede da base do Exército, o que levaria ao cemitério. O grupo não localizou nenhuma ossada.
07 de março de 2004 - O coronel da reserva da Aeronáutica Pedro Corrêa Cabral, que combateu os guerrilheiros e escreveu o livro "Xambioá - Guerrilha do Araguaia" (1993), diz que os corpos de cerca de 40 guerrilheiros foram queimados pelas Forças Armadas para eliminar as evidências do conflito. Segundo ele, os corpos foram localizados e desenterrados antes de serem queimados na serra das Andorinhas.
20 de setembro de 2007 - Familiares ganham o direito de saber o que aconteceu no Araguaia. Decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) obriga a União a quebrar o sigilo das informações militares que tratam das operações de combate à guerrilha e a intimar todos os militares que participaram do episódio a depor. No prazo de 120 dias, também deveria ser informado o local onde estão sepultados os restos mortais dos guerrilheiros, para traslado e sepultamento.
22 de setembro de 2007 - A Comissão de Anistia do
Ministério da Justiça vai até a região do Araguaia e colhe 137 depoimentos de
moradores atingidos durante a Guerrilha.
24 de abril de 2008 - A Comissão retorna à região do Araguaia e colhe mais 119 depoimentos de camponeses.
31 de julho de 2008 - Em audiência pública no Ministério da Justiça, a Comissão de Anistia defende que a tortura não pode ser considerada crime político, mas crime de lesa-humanidade (imprescritível e não passível de anistia), e propõe a responsabilização dos agentes torturadores do regime militar. Os debates geram reação do Clube Militar e o governo se divide - de um lado, o Ministério da Justiça e a Secretaria Especial de Direitos Humanos, de outro, a Advocacia Geral da União e o Ministério da Defesa.
05 de dezembro de 2008 - Chico Dólar, codinome do tenente da reserva José Vargas Jiménez, admite em depoimento uso de tortura no Araguaia e descreve o uso de formigueiros contra os guerrilheiros.
08 de abril de 2009 - A Comissão Interamericana de Direitos Humanos presta queixa contra o Brasil pelo desaparecimento de 70 pessoas durante a campanha militar contra a Guerrilha do Araguaia. Em outubro de 2008, a Comissão pediu ao governo brasileiro que tomasse providências para identificar os responsáveis pelos desaparecimentos e para impedir que a Lei de Anistia prejudicasse o andamento dos processos na Justiça, além de recomendar a indenização dos familiares das vítimas, a admissão do papel do Estado nos desaparecimentos e aulas de direitos humanos aos militares.
30 de abril de 2009 - O Ministério da Defesa organiza a comissão responsável pelas buscas nos possíveis locais de sepultamentos, clandestinos e oficiais, no Araguaia e informa que a indicação do Comando do Exército para coordenar os trabalhos foi feita para superar as dificuldades logísticas enfrentadas em expedições anteriores. A iniciativa cumpre determinação da Justiça.
Maio de 2009 - O governo lança o portal "Memórias Reveladas - Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985)", cujo objetivo é compilar documentos produzidos durante a ditadura. Nove livros com atas de reuniões do extinto Conselho de Segurança Nacional, de 1935 a 1988, são transferidos para o Arquivo Nacional. Das três mil páginas, 416 trechos foram tarjados.
11 de junho de 2009 - O ministro da Defesa, Nelson Jobim, classifica como "revanchismo" a ideia de punir militares que tenham cometido atos de tortura durante o período de ditadura. Uma ação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Supremo Tribunal Federal (STF) pede a derrubada do perdão aos militares que cometeram atos de tortura.
18 de junho de 2009 - A Comissão de Anistia anuncia a indenização de 44 camponeses do Araguaia que sofreram com a repressão da ditadura militar. As reparações financeiras variam de R$ 80 mil a R$ 143 mil à vista e mais dois salários mínimos por mês até o fim da vida. O ministro da Justiça, Tarso Genro, declara que é um pedido de desculpas do Estado.
24 de abril de 2008 - A Comissão retorna à região do Araguaia e colhe mais 119 depoimentos de camponeses.
31 de julho de 2008 - Em audiência pública no Ministério da Justiça, a Comissão de Anistia defende que a tortura não pode ser considerada crime político, mas crime de lesa-humanidade (imprescritível e não passível de anistia), e propõe a responsabilização dos agentes torturadores do regime militar. Os debates geram reação do Clube Militar e o governo se divide - de um lado, o Ministério da Justiça e a Secretaria Especial de Direitos Humanos, de outro, a Advocacia Geral da União e o Ministério da Defesa.
05 de dezembro de 2008 - Chico Dólar, codinome do tenente da reserva José Vargas Jiménez, admite em depoimento uso de tortura no Araguaia e descreve o uso de formigueiros contra os guerrilheiros.
08 de abril de 2009 - A Comissão Interamericana de Direitos Humanos presta queixa contra o Brasil pelo desaparecimento de 70 pessoas durante a campanha militar contra a Guerrilha do Araguaia. Em outubro de 2008, a Comissão pediu ao governo brasileiro que tomasse providências para identificar os responsáveis pelos desaparecimentos e para impedir que a Lei de Anistia prejudicasse o andamento dos processos na Justiça, além de recomendar a indenização dos familiares das vítimas, a admissão do papel do Estado nos desaparecimentos e aulas de direitos humanos aos militares.
30 de abril de 2009 - O Ministério da Defesa organiza a comissão responsável pelas buscas nos possíveis locais de sepultamentos, clandestinos e oficiais, no Araguaia e informa que a indicação do Comando do Exército para coordenar os trabalhos foi feita para superar as dificuldades logísticas enfrentadas em expedições anteriores. A iniciativa cumpre determinação da Justiça.
Maio de 2009 - O governo lança o portal "Memórias Reveladas - Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985)", cujo objetivo é compilar documentos produzidos durante a ditadura. Nove livros com atas de reuniões do extinto Conselho de Segurança Nacional, de 1935 a 1988, são transferidos para o Arquivo Nacional. Das três mil páginas, 416 trechos foram tarjados.
11 de junho de 2009 - O ministro da Defesa, Nelson Jobim, classifica como "revanchismo" a ideia de punir militares que tenham cometido atos de tortura durante o período de ditadura. Uma ação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Supremo Tribunal Federal (STF) pede a derrubada do perdão aos militares que cometeram atos de tortura.
18 de junho de 2009 - A Comissão de Anistia anuncia a indenização de 44 camponeses do Araguaia que sofreram com a repressão da ditadura militar. As reparações financeiras variam de R$ 80 mil a R$ 143 mil à vista e mais dois salários mínimos por mês até o fim da vida. O ministro da Justiça, Tarso Genro, declara que é um pedido de desculpas do Estado.
22 de junho de 2009 - Em entrevista ao jornal "O Estado de S.Paulo", Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o major Curió, oficial do Exército no regime militar, revela que dos 67 militantes mortos na Guerrilha do Araguaia, 41 foram executados já rendidos, quando não ofereciam risco às tropas. A versão oficial do Exército é de que todos os guerrilheiros foram mortos em confrontos. Também aparece nos documentos dele uma nova lista de 16 mortos. Segundo a reportagem, o número de combatentes teria chegado a 98, que contavam com o apoio de outros 158 moradores da região.
23 de junho de 2009 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anuncia que vai reunir os ministros Nelson Jobim (Defesa) e Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) para discutir as buscas. Mesmo diante da divulgação do dossiê Curió, Lula diz que todos os arquivos que poderiam ser abertos sobre a ditadura foram liberados.
30 de junho de 2009 - O soldado Raimundo Pereira de Melo diz ter indicado ao então secretário de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, o local onde estariam enterrados dois guerrilheiros.
Segundo Melo, as buscas teriam
sido feitas em outros pontos. A insinuação de que o governo não tem interesse
em achar os corpos foi rebatida por Miranda e pela integrante da Comissão de
Familiares de Presos Políticos, Criméia Almeida, que afirmam que toda a área apontada por ele foi
vasculhada.
02 de julho de 2009 - O ministro da Justiça, Tarso Genro, anuncia que a Comissão de Anistia vai chamar o major Curió para depor sobre a Guerrilha do Araguaia.
04 de julho de 2009 - A Advocacia-Geral da União (AGU) entra com pedido na Justiça Federal para que Curió seja intimado a entregar ao poder público documentos sobre a guerrilha que teria em seu poder.
07 de julho de 2009 - É identificada a ossada do guerrilheiro Bergson Gurjão Farias, executado no Araguaia em 1972. Os restos mortais haviam sido encontrados no cemitério Xambioá (TO) em 1996.
02 de julho de 2009 - O ministro da Justiça, Tarso Genro, anuncia que a Comissão de Anistia vai chamar o major Curió para depor sobre a Guerrilha do Araguaia.
04 de julho de 2009 - A Advocacia-Geral da União (AGU) entra com pedido na Justiça Federal para que Curió seja intimado a entregar ao poder público documentos sobre a guerrilha que teria em seu poder.
07 de julho de 2009 - É identificada a ossada do guerrilheiro Bergson Gurjão Farias, executado no Araguaia em 1972. Os restos mortais haviam sido encontrados no cemitério Xambioá (TO) em 1996.
A Secretaria Especial de
Direitos Humanos anuncia que vai pedir a análise de outras 10 ossadas que ainda
não foram identificadas a partir de exames de DNA mais aprimorados.
A mesma
ossada já tinha passado por outros cinco testes sem nenhum resultado
conclusivo.
08 de julho de 2009 - Começam as buscas em Marabá, no Pará. A comissão passará novamente pelo cemitério de Xambioá (TO) e por antigos acampamentos do Exército e da guerrilha nas regiões de São Domingos e São Geraldo do Araguaia, também no Pará, e Xambioá, no Tocatins.
08 de julho de 2009 - Começam as buscas em Marabá, no Pará. A comissão passará novamente pelo cemitério de Xambioá (TO) e por antigos acampamentos do Exército e da guerrilha nas regiões de São Domingos e São Geraldo do Araguaia, também no Pará, e Xambioá, no Tocatins.
IMAGENS DOS ARQUIVOS DA REPRESSÃO FORAM LIBERADAS EM 2009:
O Arquivo Nacional liberou o acesso ao público a cerca de
cinco mil fotografias tiradas por agentes da ditadura militar. O acervo era do
extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) e estava na Agência Brasileira de
Informação (Abin) até 2005, quando foi transferido para o Arquivo Nacional. As
imagens só foram divulgadas agora devido à edição da Lei de Acesso à
Informação. No acervo, há seis fotos, algumas inéditas, da militante Maria
Lúcia Petit da Silva morta, envolta em um paraquedas na mata. Ela atuava na
Guerrilha do Araguaia.
Há ainda outras imagens da guerrilha, como a de Osvaldo Orlando
da Costa, o Osvaldão, quando foi preso pelos militares. Ele foi um dos
primeiros a chegar ao local, com o intuito de organizar o movimento no
Araguaia. Os agentes da ditadura também fotografaram acampamentos militares e
tinham um mapa detalhado da região.
O Arquivo
Nacional liberou acesso a fotos de centenas de presos acusados de
subversão ao sistema. Muitos deles foram obrigados a posar para as lentes da
ditadura em roupas íntimas ou até mesmo totalmente nus. Desses presos, 67 foram
fotografados em fevereiro de 1971, momentos antes de serem transferidos para
outros países, na condição de exilados. Eles foram trocados pela liberdade do
embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, que havia sido sequestrado pela
Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) em dezembro do ano anterior.
No grupo que seria libertado estavam o frei Tito de Alencar e
Nancy Mangabeira Unger, irmã do ex-ministro do governo Lula. O frade dominicano
foi encontrado morto no exílio na França em 1974, aos 28 anos. Nancy recebeu
indenização do governo federal recentemente pelas torturas e perseguições
sofridas.
Chamam atenção no meio das fotos as imagens de três mulheres
acompanhadas de crianças. Segundo o Arquivo Nacional, os filhos foram entregues
às mães no momento da partida. Uma das mulheres posa com três filhas — que,
segundo a legenda da foto dada pela ditadura militar, tinham 8, 4 e 3 anos. Há
também outras imagens com duas mulheres acompanhadas de dois bebês com idades
não informadas.
No Arquivo Nacional, também há nove fotos do jornalista
Vladimir Herzog morto. Ele foi fotografado nu, de frente e de costas, antes e
depois da necrópsia. O pescoço apresenta uma nódoa escura. O jornalista foi
achado morto em 1975, pendurado pelo pescoço, em uma cela do DOI-Codi em São
Paulo, após uma sessão de tortura. A ditadura alegou suicídio, versão rejeitada
por familiares e amigos.
O Arquivo Nacional também pôs à disposição para consulta
pública imagens da campanha pela “anistia ampla, geral e irrestrita”, em 1979.
À distância, em evento no Rio de Janeiro, foram fotografados o cantor Milton
Nascimento, os atores Sérgio Britto, Osmar Prado e Carlos Vereza, e as atrizes
Renata Sorrah, Lucélia Santos e Bete Mendes. Existem, ainda, fotos de eventos
religiosos com o bispo dom Helder Câmara.
O Jornalista WLADIMIR HERZOG, que foi morto após sessão de torturas nas dependências do DOI-DI do Exército em São Paulo.
MAIS SOBRE OS CORPOS DE GUERRILHEIROS:
Os corpos de João Carlos Haas, o dr. Juca, e de outro guerrilheiro são
observados pelo sargento José Antônio de Souza Perez (portador dos negativos
das fotos) em 1972. Eles foram encontrados em uma área próxima às margens do
rio Araguaia.
Jamais encontrados, os corpos de dois guerrilheiros do
Araguaia estiveram em poder de militares, revela uma seqüência de fotos cujos
negativos foram obtidos pela Folha. As fotografias mostram três homens do
Exército junto aos cadáveres. Elas exibem ainda a chegada do helicóptero
militar que os tirou da selva, a arrumação dos cadáveres em lonas e a partida
do helicóptero.
Um dos corpos seria do médico João Carlos Haas Sobrinho, um dos líderes da guerrilha do PC do B. O outro cadáver não está identificado. É possível que seja do guerrilheiro Ciro Flávio Salazar de Oliveira, morto no mesmo combate que vitimou Haas, em 30 de setembro de 1972. Parte das fotos não é inédita. Algumas já foram publicadas em livros e na imprensa nos últimos 20 anos, mas de forma isolada, sem o encadeamento proporcionado pelos negativos. Agora é possível saber a cronologia dos fatos.
Os negativos estão há 36 anos com o ex-sargento do Exército José Antônio de Souza Perez, 60, que mora em Patrocínio, cidade com cerca de 85 mil habitantes no Triângulo Mineiro. Ele diz tê-los recebido de um colega soldado, do qual não lembra mais o nome. Conta que as fotografias foram batidas no Pará, na margem esquerda do rio Araguaia, em um acampamento improvisado na selva amazônica, onde os dois trabalharam ao longo de 1972.
Procurados pela Folha, o Ministério da Defesa e o Exército informaram que não se pronunciariam sobre as fotos.
A guerrilha rural na região do Bico do Papagaio (sudeste do Pará, sul do Maranhão e norte do então Estado de Goiás, hoje Tocantins) foi organizada pelo então clandestino PC do B, a partir da segunda metade dos anos 60. Iniciada em 1972, a repressão militar terminou três anos depois. Houve poucos sobreviventes. Os historiadores estimam que cerca de 60 guerrilheiros foram mortos pelos militares. Apenas um corpo foi identificado, o de Maria Lúcia Petit, assim mesmo passadas duas décadas da morte.
O recolhimento
O ex-sargento Perez lembra que estava no acampamento quando a equipe que comandava recebeu uma mensagem por rádio. A informação passada era de que em breve seriam levados até o local corpos de guerrilheiros mortos há pouco em confronto.
Os dois cadáveres chegaram ao local conduzidos por fuzileiros navais amarrados pelos pés e mãos em ripas de madeira. Juca foi logo identificado, por causa do diário que carregava. A outra vítima do confronto não tinha qualquer indicação de identidade. Perez nunca soube de quem se tratava.
Para remover os corpos, aterrissou no acampamento um helicóptero militar. Fuzileiros e militares do grupo de Perez trabalharam na preparação dos cadáveres, envoltos em lonas listradas e colocados no aparelho, que decolou em seguida.
Na opinião do ex-sargento, o helicóptero seguiu possivelmente rumo à base militar instalada no campo de pouso de Xambioá, cidade na margem direita do Araguaia, em então área de Goiás. Ele afirma que nunca mais soube dos corpos.
A publicação das fotos ao longo dos anos é um mistério para Perez. Ele imagina que a origem pode ter sido o soldado que bateu as fotografias e era o dono da câmera, levada de modo clandestino para o Araguaia, pois os praças eram proibidos pelo oficialato de registrar cenas de combate.
Ele também presume que, em algum momento, as fotos podem ter sido apreendidas por algum oficial, que, anos depois, as teria divulgado de maneira anônima. Perez ficou com os negativos para tirar cópias de fotos em que posava. Ele conta que, por causa de circunstâncias do trabalho na mata, jamais teve a chance de devolvê-los ao dono.
Xambioá
O cadáver de João Carlos Haas Sobrinho, o dr. Juca, foi visto em Xambioá depois de trazido da selva pelo helicóptero militar, conta a jornalista e pesquisadora Myrian Luiz Alves. Moradores da pequena cidade na margem direita do rio Araguaia -hoje Estado do Tocantins- mostraram a ela até o local do sepultamento.
Em 1972, os militares conseguiram matar oito guerrilheiros, três deles no dia 30 de setembro. Eram Juca, Ciro Flávio Salazar de Oliveira, o Flávio, e Manoel José Nurchis, o Gil.
A revelação dos negativos obtidos pela Folha mostra o corpo que seria de Juca ao lado de um outro, de estatura menor. Dados corporais em poder da pesquisadora indicam que Juca media, quando tinha 18 anos, 1,82 m de altura. Gil media cerca de 1,75 m; Flávio, já adulto, media de 1,65 m a 1,70 m.
De acordo essa medição, o mais provável é que a outra vítima mostrada na foto tenha sido Flávio, mineiro de Araguari, ex-líder estudantil e aluno da da Faculdade de Arquitetura da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Tinha 28 anos quando foi morto.
Nos anos 90 e no início desta década, expedições de parentes e pesquisadores a Xambioá encontraram o local onde Juca teria sido enterrado. Uma ossada chegou a ser retirada da suposta sepultura de Juca em 1996, mas nunca houve conclusão a respeito da identificação desses restos mortais.
Autor de "A Guerrilha do Araguaia: a Esquerda em Armas" (editora UFG, 1997), o historiador Romualdo Pessoa Campos Filho disse à Folha que a descoberta dos negativos que mostram integrantes das Forças Armadas ao lado de dois cadáveres "é um prova contundente de que os militares" estiveram "com os corpos dos guerrilheiros".
Ex-sargento diz ter guardado série por medo de morrer
DO ENVIADO ESPECIAL A PATROCÍNIO (MG)
Lavrador em Patrocínio desde que deixou o Exército, em 1974, o ex-sargento José Antônio de Souza Perez, 60, ainda teme os guerrilheiros. Por isso, e também por desconfiar da reação dos militares, guardou os negativos tanto tempo. (ST)
(FOLHA DE SÃO PAULO).
PESQUISA E FONTES:
KARLÃO-SAM
E:
JORNAIS: O GLOBO - ESTADÃO - REVISTA VEJA -FOLHA DE SÃO PAULO.
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