As mulheres do Cangaço

Entre a poeira da caatinga e o barulho seco dos tiros, surgiram figuras femininas que o tempo transformou em mito. Maria Bonita, Dadá, Sila, Durvinha, Inacinha… nomes que sobreviveram à seca, ao amor e à morte.

A maioria não entrou no cangaço por escolha plena. Algumas seguiram seus companheiros por paixão, outras foram levadas à força. No sertão, o amor e a violência andavam lado a lado, e a ternura tinha o mesmo peso da pólvora. Entre costurar fardas e empunhar armas, essas mulheres viveram sob regras duras, cercadas por homens que, muitas vezes, amavam e feriam com a mesma intensidade.

Mas a violência que moldou o cangaço não nasceu ali. Antes dos bandos de Lampião, vieram os coronéis, senhores de terra que mandavam matar com a naturalidade de quem dava ordens para colher o algodão. Seus jagunços faziam o serviço sujo, espalhando medo pelos sertões. Quando o poder desses coronéis enfraqueceu, muitos jagunços se tornaram cangaceiros. A violência do campo apenas mudou de farda, mas não de lógica.

Em 1938, na Grota de Angico, o ciclo se fechou. Lampião, Maria Bonita e parte do bando foram mortos numa emboscada. Seus corpos foram degolados e exibidos como troféus em praças do Nordeste, um espetáculo macabro que o governo chamou de “ordem restabelecida”. As cabeças ficaram expostas por décadas no Instituto Nina Rodrigues, em Salvador, até serem finalmente sepultadas em 1969.

As mulheres do cangaço não foram heroínas nem inocentes, foram o espelho de um Brasil que sempre conheceu a violência antes da justiça, e que aprendeu a transformar a tragédia em folclore.

Texto de Paulo Henrique Máximo Lacerda – A História Esquecida

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