J Verão de 1911. Enquanto outras crianças pegavam pirilampos, Nan de Gallant acordava antes do amanhecer para ir trabalhar. Tinha apenas 9 anos.
De sua casa no número 4, Clark Street, Eastport, Maine, estava indo para a fábrica n. ou 2 de Seacoast Canning Co. Lá passava o dia a empurrar peixe, suas mãos pequenas selavam lata após lata com uma precisão que não deveria ser exigida a ninguém tão jovem.
O chão cheirava a salmoura. O barulho das tampas de lata afogava qualquer infância possível. As jornadas eram intermináveis: das 7 da manhã à meia-noite, sem horas extras, sem descanso. Só trabalho.
Não estava sozinha. Sua mãe e suas irmãs também trabalhavam lá. Seu irmão, nos barcos. Todo verão, a família migrava de Perry para Eastport para trabalhar na temporada alta. Não por gosto. Por necessidade.
A imagem que ainda sobrevive — Nan de pé, com a roupa manchada e os olhos fixos na câmera — não mostra lágrimas. Nem ressentimentos. Apenas o silêncio resignado de uma menina que cresceu cedo demais.
Sua história, como a de milhares de crianças operárias do início do século XX, nos lembra que o progresso também tem cicatrizes. E que há olhares que ainda falam, mesmo quando o século mudou.
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