Oliver Stone retornou ao Vietnã com uma câmera na mão. 
Anos antes, estivera lá como soldado. 
Agora, com ‘Platoon’, queria rememorar o que os estúdios evitavam: o cheiro da lama, o cansaço que emudece, a paranoia que cresce entre árvores fechadas. 
Sem apoio do governo americano, o diretor decidiu filmar nas Filipinas, com armamentos e veículos emprestados pelas forças armadas locais. Era 1986, o regime de Ferdinand Marcos desmoronava e manifestações explodiam nas ruas. 
Stone reuniu um elenco jovem para o meio do caos, longe de qualquer conforto ou estabilidade.

Ao contrário de outros diretores que queriam que seus elencos se unissem, Stone queria que seus atores se exaurissem. 
Foram 14 dias em selva fechada, sem banho, sem contato com o mundo exterior, comendo ração militar e dormindo em trincheiras lamacentas. Dale Dye, veterano de guerra contratado para apagar qualquer afetação hollywoodiana, simulou emboscadas, trocas de tiros e até choques emocionais para provocar reações autênticas. Só depois desse batismo, as câmeras começaram a rodar.

Stone filmou de trás para frente. As cenas finais, marcadas pelo colapso físico e mental, foram as primeiras a serem rodadas. Quando Charlie Sheen chegou, o elenco já estava exausto — como Stone queria. 
Ele interpretava Chris Taylor, um soldado recém-chegado, dividido entre dois sargentos em conflito: o impositivo Barnes (Tom Berenger), cuja cicatriz exigia três horas de maquiagem, e o idealista Elias (Willem Dafoe), que tentava manter a moral num ambiente sem regras. A tensão entre os dois ultrapassava a ficção, alimentada pelo diretor, que manipulava o psicológico dos atores para alcançar o máximo de realismo. 

O cronograma foi prejudicado por tufões tropicais, febres, atrasos de transporte e falhas técnicas. As armas travavam com a umidade. Cabos afundavam na lama. Um dia, a produção chegou a ser evacuada por ameaça de golpe militar nas redondezas. Mas o set não parava por completo. Havia um senso de missão que ultrapassava o orçamento. Cinco e quatro dias depois, o trabalho dispendioso findava.

Cada quadro de ‘ Platoon’ carrega suor, trauma e uma verdade indigesta. É um filme que chora e sangra — feito por um diretor que conheceu aquela tragédia de perto e quis fazer o público sentir, na carne, o gosto amargo da derrota inadmissível. Roger Ebert disse: “Truffaut dizia que era impossível fazer um filme verdadeiramente antiguerra. Eu gostaria que ele tivesse vivido para ver Platoon.” E talvez a melhor expressão de seu impacto tenha vindo do próprio Charlie Sheen, que, ao voltar para casa após as filmagens, ajoelhou-se no chão e o beijou. Ele sobreviveu.

Pesquisa e redação: Daniel de Boni

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