MULHERES, DONAS DE TANTAS CONQUISTAS, JÁ PASSOU DA HORA DE HORA DE LUTAR
PELA VIDA!
ESPANCADA POR MARIDO GRÁVIDA MORRE IGUAL CACHORRO: A CHUTES
Detalhe é que ela morreu de
hemorragia porque levou uma surra do homem com quem morava. Oberdan Gonçalves
Braga, pai do filho que estava esperando.
Seu companheiro? Seu parceiro? Não
fica nem bem chama-lo assim, né? Trata-se de um monstro. Uma pessoa agressiva,
sem limites, sem empatia. Como podemos chamar um homem que agride com todo ódio
a mulher que carrega seu filho no ventre?
Maria Edjane foi agredida, chutada,
xingada, humilhada sem dó. Essas agressões lhe causaram a hemorragia. Isso não
é assassinato? Não consigo entender de outra forma.
Uma criatura que chuta, sem
remorsos, a barriga onde seu filho estava sendo gestado só pode querer que a
criança morra. Ele queria matar as duas: mulher e filha. Só que deu azar. Por
enquanto matou uma só.
Maria Edjane foi até a delegacia.
Deu parte do agressor. De lá foi internada no Hospital da Mulher, em Barra
Mansa, onde deu à luz à sua bebê. A bebê luta pela vida num leito de UTI. Não
se sabe se vai sobreviver. Se sobreviver, se terá sequelas.
Edjane não sobreviveu. Não teve
tempo de se encantar com o rostinho dela. Nem se emocionar com o primeiro olhar
trocado.
Da bebê, foram roubados o direito
ao peito, ao colo, ao amor materno. Isso sem falar dos riscos que o nascimento
de um prematuro pode trazer. E se ela precisar de tratamentos? Fono? Fisio?
Terapia Ocupacional? Quem vai levar? O papai monstro?
Um homem que mata a mulher e coloca
a vida da filha em risco de propósito, tem condições e caráter para ser um bom
pai? Quem vai cuidar dessa menina que já nasce com um futuro capenga faltando
pedaço?
Maria Edjane foi morta. Essa não
foi uma morte sem avisos. A morte de mulheres que se relacionam com homens
agressivos é uma tragédia anunciada.
Eles chegam maravilhosos. O homem
perfeito. O príncipe num cavalo branco. Carinhoso. Dedicado. O amor em pessoa.
Trazem presentes, elogios. Os avisos surgem aos poucos. Uma crise de ciúmes
daqui. Uma sacudida no braço dali. Uns xingamentos. As brigas crescentes.
Você pensa que é ciúmes. Ele também
diz que é. E você se encanta porque:
- Sinal de que ele me ama.
Ele não ama. Ele possui. Quer ser o
dono. Você e o carro dele têm o mesmo valor. Você um pouco menos se o carro for
novo.
Ele manda. Ele ordena. Ele
controla. Ele virou seu chefe. Um chefe sádico que destrata, humilha, só sabe
botar defeitos. Você se encolhe. Vai murchando. E acreditando que não vale nada
mesmo.
Um dia ele te empurra. No outro te
dá um sacode. Depois ele chora. Pede perdão. Jura amor eterno. Vocês não podem
acabar assim. E você pensa que, no fundo, bem lá no fundo, o coração dele é bom
Por isso dá outra chance.
Você não conta nada, mas tem medo
da solidão. Ficar só. Recomeçar tudo de novo. Ele diz que mais ninguém vai te
amar como ele. Você acredita. E, com a autoestima no pé, vai ficando.
Era tão bom no começo. É tão bom
nos dias depois de fazer as pazes. Por que não tentar? E você vai ficando. Sem
perceber que dorme com o inimigo. A morte ali te rondando sem fazer alarde.
Maria Edjane deu queixa. Uma queixa?
E quantas surras levou até chegar a esse ponto? Quantas humilhações?
Quantas
mentiras teve que contar para disfarçar os roxos do corpo e da alma?
Dar queixa e voltar para a mesma
casa? Olho a olho com o agressor ainda mais furioso? Isso é brincadeira? Que
justiça é essa que desprotege as mulheres? Que brinca com a vida alheia? Que
promete e não cumpre, não cuida, não protege?
As leis têm buracos por onde
escapam os safados agressores. Brechas que nos deixam jogadas à própria sorte.
É com desespero que a gente assiste uma criatura dessas como o marido de Edjane
sair pela porta de frente da delegacia enquanto ela vai para baixo da terra.
Medidas protetivas? Tornozeleira
eletrônica? Não tem nem para bandido, vai sobrar para botar em agressor?
Estamos sendo mortas como moscas. Uma a uma. Sem causar alarde. Sem protestos.
Sem que a justiça se coce.
Um cachorro foi morto a pauladas
num supermercado Carrefour. Houve protestos, revoltas, movimentos.
Exigiram providências.
Punição para o responsável. É justo?
Penso que sim.
Maria Edjane morreu como o cachorro
do Carrefour. A chutes e pauladas. Como uma vira-lata indesejada. O que faltou
à polícia para tomar providências? Como um homem desses sai livre, leve e solto
depois de uma atrocidade dessas?
O cachorro do Carrefour não merecia
ser morto. Apoio todos os movimentos e repúdios que foram feitos.
E aguardo,
aflita, que Maria Edjane mereça a mesma consideração.
Justiça, o sangue derramado de
Edjane sangue te pertence. Essa bebê sem mãe também. Seu silêncio é conivente
com os homens assassinos. Seu silêncio faz derramar sangue de mulheres
inocentes nas nossas terras.
Até quando?
Foi lutando, em todos os sentidos, que as mulheres
conseguiram o direito ao voto, a dirigir, ao trabalho. Não está na hora de
lutar pela vida?
Extra.com-RJ
Por: Mônica Raouf El Bayeh