ASSASSINO DE ESTUDANTE LEVOU 23 ANOS DE PENA

 VINICIUS MATOU LOUISE RIBEIRO
Assassino confesso da estudante Louise Ribeiro, o ex-aluno de biologia da Universidade de Brasília (UnB) Vinícius Neres foi condenado a 23 anos de prisão e 10 dias de multa. A sentença definida pelo júri popular foi lida pelo juiz Paulo Giordano às 20h19 desta segunda-feira (3). Cabe recurso.
A pena inicial foi definida em 25 anos, mas a idade de Vinicius Neres (inferior a 21 anos) e a confissão do crime contribuíram para reduzir a condenação. Por entender que o réu "demonstrou periculosidade completa", a Justiça definiu que ele não poderá recorrer em liberdade.
O crime aconteceu em março de 2016. Louise, que tinha 20 anos, foi dopada com clorofórmio e, depois de inconsciente, teve 200 mililitros do produto químico injetados na boca. O produto tóxico foi a causa da morte, segundo laudo do Instituto Médico Legal (IML). O crime foi cometido em um laboratório da UnB.
De acordo com a investigação, Neres prendeu os pés e as mãos da menina e enrolou o corpo dela em um colchão inflável. Ele teria levado o corpo da estudante no carro dela até uma área de cerrado no Setor de Clubes Norte e abandonado o cadáver na mata.
Nesta segunda, Neres escutou a sentença em pé e, a exemplo do que ocorreu durante todo o julgamento, não chorou. O documento lido ao fim da sessão fala em "comportamento egoista, frio, calculista" e diz que a morte ocorreu "da forma mais cruel e desumana possível".
Os sete jurados decidiram aplicar os quatro "agravantes" indicados pelo Ministério Público para qualificar o homicídio: motivo torpe, meio cruel (asfixia), recurso que dificulta a defesa da vítima e feminicídio. Esse último termo torna o crime hediondo, e dificulta a progressão da pena para os regimes semiaberto e aberto.
Por volta das 19h45, os jurados se reuniram em uma sala fechada para deliberar sobre a pena e elaborar a sentença final. A reunião durou pouco mais de meia hora, e o juiz começou a ler o documento às 20h16.
Segundo a acusação do MP, o ex-estudante premeditou o crime, e matou Louise por estar inconformado com o término do relacionamento. A defesa de Neres afirmava que o homicídio foi cometido em "um momento de raiva", sem planejamento, e que o réu tinha bons antecedentes.
Ao longo de todo o julgamento, a intenção das advogadas Vania Fraim de Lima e Tabata Lais Sousa Silva era de reduzir os agravantes da acusação, e não, de inocentar completamente o réu. Em 11 de março de 2016 – dia seguinte à morte de Louise –, Vinicius Neres foi detido, confessou o crime e levou a Polícia Civil ao esconderijo do corpo.
O julgamento
O julgamento de Neres começou na manhã desta segunda. Ele foi preso em flagrante, em março de 2016, acusado de asfixiar e queimar o corpo da universitária. Desde então, o jovem cumpre prisão preventiva no Complexo Penitenciário da Papuda.
Durante o interrogatório feito pelo juiz, o ex-aluno da UnB negou que o crime tenha sido premeditado. Sem demonstrar comoção, ele disse que sempre teve uma relação muito forte com Louise, e que nunca havia pensando em matá-la.
Além do próprio réu, foram convocadas quatro testemunhas comuns — um policial, uma estudante e uma professora da UnB e o pai de Louise — e duas testemunhas de defesa — o pai de Neres e um agente penitenciário. Os depoimentos começaram pela manhã [veja detalhes].
Em conversa com jornalistas no intervalo da sessão, o pai de Louise, Ronald Ribeiro, disse enxergar uma tentativa da defesa de Neres de tentar "iludir o júri".
"Tem a questão do feminicídio, que eles estão querendo tirar. A questão do motivo torpe, que ele está querendo jogar para cima da minha filha, o desprezo [dela] por ele. Em vez de ele não aceitar o 'não', está tentando se passar por vítima."

 Responsável pelo caso no MP, o promotor Marcello Medeiros defendeu a versão de que o crime tenha sido premeditado. Segundo a tese da acusação, Louise foi assassinada por ser mulher, e porque Neres não se conformou com o término do relacionamento.
O primeiro argumento é importante, porque resulta no enquadramento do caso como "feminicídio". Esse qualificador torna o crime hediondo – na prática, dificulta a progressão do regime de cumprimento da pena. O homicídio qualificado prevê penas de 12 a 30 anos de prisão.
Ao defender a culpa de Neres, o promotor citou o discurso do presidente Michel Temer no Dia Internacional da Mulher para dizer que o machismo "está arraigado na mente da maioria dos homens". Na ocasião, Temer afirmou que o papel da mulher na economia era identificar flutuações de preços em supermercados.
Medeiros disse que as queimaduras no rosto e na região pélvica de Louise "demonstram a raiva do réu", e que Neres levou clorofórmio e álcool ao laboratório porque agiu de caso pensado. Em depoimento, o ex-aluno disse que as substâncias já estavam no laboratório.
Defesa
As advogadas Vania Fraim de Lima e Tabata Lais Sousa Silva comandaram a defesa do ex-estudante. Segundo elas, Neres sempre planejou se matar no laboratório mas, quando contou essa ideia a Louise, recebeu "um abraço frio" da moça.
Esse abraço teria feito o jovem mudar de ideia, segundo a tese da defesa. "Ele não matou por ela ser mulher. Ele chegou a esse limite por estar em um elevado estresse", dizem. As advogadas também negam que o objetivo do jovem, ao atear fogo no corpo de Louise, era de destruir o cadáver.
A defesa argumenta que Neres "sempre foi uma boa pessoa", e descarta a teoria de que ele teria problemas psicológicos.
Ele sempre foi um bom estudante, um bom amigo, um bom filho, um bom neto. Até aquele fatídico dia. Aconteceu tudo o que aconteceu, depois ele voltou para a sua plenitude."
Em um momento da argumentação da defesa, as advogadas afirmaram que “quem saiu machucado do relacionamento foi Vinícius”. A fala arrancou risos de parte do público que acompanhava a sessão.
O juiz, Paulo Giordano, então, ameaçou esvaziar o plenário caso houvesse outra manifestação. “Estamos em um caso muito sério”, afirmou.
Detalhes
Segundo o policial a quem Neres confessou o crime, Daniel Vilar Silva, um dia após o assassinato, o próprio estudante levou a equipe da Polícia Militar ao local onde ele havia deixado o corpo de Louise. “Ela estava parcialmente despida, só de calcinha e com o rosto queimado coberto por uma sacola plástica”, disse em testemunha durante juri popular.
As roupas de Louise não foram encontradas. O policial disse ainda que o corpo da jovem foi encontrado com um arame nas pernas e um lacre de plástico nas mãos.
Depois do crime, Neres ainda teria saído para dar uma volta no carro dela pelas proximidades da UnB. O passeio teria durado cerca de 12 minutos. O ex-estudante disse à polícia que chegou a tirar a calcinha da vítima e um absorvente interno, mas "decidiu" não violentá-la.
O carro de Louise foi abandonado no estacionamento do Instituto de Biologia e Neres voltou para casa de ônibus, segundo informações dadas por ele mesmo em depoimento à Polícia Civil.

G1-DF

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