Jornalista vítima da bandidagem gratuita.
O assassinato gratuito e escabroso (de forma intencional, no
mínimo dolo eventual) de um cinegrafista da Band num protesto contra o aumento
das passagens de ônibus no Rio de Janeiro reforça a ideia de que vivemos no
país das belezas naturais inigualáveis, mas também da mais escrota e
irresponsável bandidagem (seja fraudulenta, seja violenta), que constitui uma
das heranças malditas do colonialismo extrativista e saqueador, que ao povo
transmitiu a cultura do autoritarismo, do ignorantismo, do parasitismo, do
desigualitarismo (segregacionismo) e do cruel selvagerismo.
Com 27,1 assassinatos para cada 100 mil pessoas (em 2011), o
Brasil não é o 16º mais violento do mundo por acaso. Aqui acham-se falidas
todas as instituições nucleares da vida sustentável em sociedade
(Estado/democracia, capitalismo, império da lei e sociedade civil). Quanto mais
amplia nossa complexidade, mais o Brasil vai se degringolando e se afogando no
sangue dos seus “cadáveres antecipados” (Zaffaroni).
Nossa democracia passa por crise profunda (81% da população
afirma que o político brasileiro é corrupto ou muito corrupto – Ibope) e
continuamos praticando o capitalismo selvagem e retrógrado (70% do PIB estão em
pouquíssimas mãos; o restante é dividido para 200 milhões de pessoas), que não
tem nada a ver com o elogiável capitalismo evoluído e distributivo, fundado na
educação de qualidade para todos (Dinamarca, Coreia do Sul, Noruega, Finlândia,
Canadá, Japão etc.). O império da lei virou zombaria e a sociedade, ao
substituir os valores clássicos de convivência (respeito às pessoas, honra, boa
reputação, amor ao trabalho etc.) pelos da sociedade vazia e líquida, se tornou
totalmente incivilizada e grosseiramente consumista, em razão da sua
esplendorosa vulgaridade.
Que nos falta? Romper definitivamente com nosso maldito
passado colonialista e extrativista e promover a maior revolução aqui jamais
vista nas áreas da educação e da ética, de onde resultará naturalmente o
respeito e o império da lei (enforcement) assim como a
civilidade/cidadania. EEE: educação, ética e “enforcement” (império da lei e da
Justiça): prevenção antes de tudo e, ao mesmo tempo, contenção da bandidagem e
da malandragem generalizadas. Não vejo outro caminho mais racional e mais
sensato para superarmos nossa barbárie (“guerra de todos contra todos”, como
dizia Hobbes) e ingressarmos finalmente na civilização (N. Elias).
Deveríamos sair por aí, todos de branco, quebrando tudo
quanto é resistência, sobretudo da burguesia acomodada, que ainda ostenta o
espírito espoliador e saqueador do colonialismo selvagem, que há muito tempo
foi abandonado ou rejeitado pelas nações capitalistas mais prósperas e mais
invejadas do planeta (Dinamarca, Áustria, Alemanha, Cingapura, Noruega etc.).
Professor Luiz Flávio Gomes.
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