A URGÊNCIA DO ENSINO MÉDIO
1 De Novembro De 2012
Artigo de Mozart Neves Ramos.
No início da gestão do ministro da
Educação, Aloizio Mercadante, uma importante decisão foi tomada: o Brasil
precisa fechar de vez a “torneira” do analfabetismo. É preciso que todas as
crianças estejam alfabetizadas pelo menos até os oito anos de idade. O
secretário de Educação Básica, Cesar Callegari, não perdeu tempo e saiu a
campo: trouxe todos os atores diretamente envolvidos com essa etapa
educacional, especialmente a União Nacional dos Dirigentes Municipais de
Educação (Undime), e elaborou um programa de alfabetização que inclui formação
docente, material didático de boa qualidade e avaliação. Em menos de um ano, o
Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic) foi estruturado e em
breve será lançado oficialmente. Esse é um exemplo de convicção, decisão
política, coragem e investimento direcionado para uma etapa tão importante.
Na outra ponta da educação básica
está o ensino médio, com diversos problemas que desencadeiam baixos indicadores
de aprendizagem. Esses problemas não são de hoje, já vêm de longe, e seus
efeitos começam a se tornar mais nítidos agora. Sem resolvê-los, o país não
atingirá uma das metas do novo Plano Nacional de Educação (PNE): o de elevar a
33% o percentual de jovens de 18 a 24 anos no ensino superior. Vale lembrar que
essa já era a meta do PNE que se concluiu em 2010. Nem sequer nos aproximamos
desse percentual ao seu término, chegando a apenas 14,6%.
De antemão, sabemos que essa será
uma das metas mais desafiadoras do plano, em função da crise que o ensino médio
vem enfrentando. Faltam professores, um currículo atraente e escola de tempo
integral. Enquanto isso, o Ministério da Educação e os secretários estaduais de
Educação não se entendem. A consequência desse descompasso em relação ao ensino
médio pode afetar diretamente o crescimento do país, que vive hoje uma boa onda
econômica.
Ou o Brasil forma bem os jovens de
agora ou não teremos quem sustente a sua economia num futuro próximo. Faltará –
o que já se vem observando nos mercados internos em expansão – mão de obra
qualificada para atender as demandas. O Brasil terá que importá-la, enquanto os
nossos jovens ficarão à margem do processo produtivo.
Para tentar ajudar a resolver o
problema da mão de obra qualificada, as empresas e o Sistema S (Senai, Senac,
Sesi, Sebrae e outros) começam a investir fortemente no aumento de escolaridade
de seus trabalhadores, tal como vem fazendo o Sesi/SC. Essas iniciativas vêm
contribuindo para a redução da desigualdade de renda. Números do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelam que o aumento da escolarização da
mão de obra fez cair a diferença salarial entre os que têm menos e mais
instrução. Uma das consequências foi que o Índice de Gini – indicador que mede
a distribuição de renda – baixou de 0,552 em 2001 para 0,485 em 2011. Pela
primeira vez, ficou abaixo de 0,5 – e quanto mais próximo de zero, melhor a
distribuição de renda.
Mas muito do que se investe hoje em
educação é para tapar o buraco deixado pela baixa qualidade do ensino
oferecido. Uma situação análoga à da formação continuada de professores, que
deveria ser uma atualização e uma nova qualificação, e não uma formação
complementar à inicial, como acontece.
O Brasil precisa resolver o
problema do ensino médio. Não há mais tempo. Um país que quer ser protagonista
num cenário mundial competitivo não pode se acomodar com uma geração nem-nem –
jovens que nem trabalham nem estudam. Segundo estudo do Senai, o país tem hoje
5,3 milhões de brasileiros entre 18 e 25 anos que estão excluídos do mercado de
trabalho e do ensino formal. Para esses sobram profissões de baixa remuneração,
que não exigem o ensino médio. Ocorre que nos tempos atuais, com mudanças
tecnológicas tão intensas, as mudanças estruturais são cada vez mais rápidas
nos meios de produção. Assim, em médio prazo, esses trabalhadores precisarão de
maior escolarização, seja para aperfeiçoar a educação num curso universitário,
seja para fazer um curso profissionalizante.
No País há alguns poucos modelos,
já em escala razoável, de bons programas de ensino médio, a exemplo das Escolas
de Referência de Tempo Integral, em Pernambuco. Porém, diferentemente do pacto
nacional que vem se estabelecendo pela alfabetização de crianças na idade
certa, para melhorar o ensino médio, ainda faltam entendimento, cooperação,
humildade e investimentos. É preciso estabelecer também um pacto pelo ensino
médio, e o mais rápido possível!
Mozart Neves
Ramos é membro do Conselho de Governança do Todos Pela Educação e do Conselho
Nacional de Educação e professor da UFPE. Artigo publicado no Correio
Braziliense de hoje (1º).
NEM NEM: LEGIÃO QUE NÃO ESTUDA NEM TRABALHA
23 De
Outubro De 2012
Reportagem de Fabiana
Ribeiro, Cássia Almeida e Henrique Gomes Batista, publicada em O
GLOBO
e O Estado de São Paulo, em 21/10/2012, registra:
O Brasil já aprendeu que lugar de criança é na escola. Tanto que
praticamente todos os pequenos de 6 a 14 anos estudam (98,2%). O País, contudo,
não teve o mesmo sucesso com jovens e adolescentes. Levantamento do Instituto
de Estudos Sociais e Políticos da Uerj aponta que quase um em cada cinco jovens
(19,5% dos 27,3 milhões dos jovens entre 18 e 25 anos) não estuda, não
trabalha, nem procura emprego. São os chamados `nem nem`, representados por um
contingente de 5,3 milhões de pessoas.
É um cenário longe de ter um desfecho feliz. Em dois anos, a parcela
dos jovens entre 15 e 17 anos que estuda caiu de 85,2% em 2009 para 83,7% em
2011, conforme mostrou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do
IBGE. Ou seja, há outros 1,7 milhão de adolescentes dessa faixa etária longe
dos bancos escolares, um contingente que pode ajudar a engrossar a geração dos
`nem nem`.
Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a
grande maioria desses jovens de 15 a 17 anos mora com os pais. O que surpreende
é que, entre os que têm de 25 a 29 anos e não estudam nem trabalham, há quase
20% chefes de família.
Não são poucos os motivos: da evasão escolar ao desalento, passando por
gravidez precoce e envolvimento com o crime. Fazer o jovem não abandonar os
estudos é, sem dúvida, o maior desafio da educação brasileira. A taxa de
desemprego de adolescentes de 10 a 17 anos caiu de 20,1% para 19,4%, em dois
anos.
`A evasão escolar mostra que a escola não está interessante o
suficiente. É entre os mais pobres que encontramos as maiores proporções de
excluídos, tanto dos estudos quanto do trabalho`, disse Adalberto Cardoso,
pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da UERJ,
acrescentando que mudar esse quadro exige políticas públicas que busquem, por
exemplo, incentivar as famílias carentes para a manutenção dos jovens na escola
e criar espaços acessíveis e gratuitos de aprendizagem profissional.
Pelos dados do Iesp, com base no Censo 2010, o número de moças que não
estuda e não trabalha é quase o dobro do número de rapazes: respectivamente,
3,5 milhões e 1,8 milhão. A maternidade é a grande explicação para essa
distância. Para se ter ideia, 50% das jovens da geração `nem nem` têm filhos.
Mas a família não é a única explicação. Há, segundo Cardoso, um forte
desalento em consequência da qualificação ruim. `A qualificação ruim dos jovens
não permite a eles ingressarem no mercado de trabalho, mesmo em plena
atividade. Os pobres são, sem dúvida, os mais afetados`, disse Cardoso,
acrescentando que, na parcela mais pobre da população brasileira, com renda per
capita de até R$ 77,75, quase metade dos jovens estava fora da escola e do
mercado de trabalho.
Artigo de Mozart Neves Ramo
1 De Novembro De 2012
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