Quem diria hein? Cogumelos mágicos e Papai Noel!
Este Natal, como muitos outros, a história do Papai Noel e
suas renas voadoras foi contada, incluindo como o “velho alegre” percorreu todo
o mundo em uma só noite, dando presentes para todas as crianças.
Mas, de acordo com uma teoria, a história do Papai Noel e
suas renas voadoras tem uma origem improvável: cogumelos alucinógenos ou
“mágicos”.
John Rush, antropólogo e professor no Sierra College em
Rocklin, na Califórnia (EUA), aponta que “Papai Noel é a contraparte moderna de
um xamã, que consumiu plantas e fungos que alteram o estado mental e entra em
comunhão com o mundo espiritual”.
De acordo com a teoria, a lenda do Papai Noel deriva de xamãs
das regiões siberianas e árticas que deixam de presente nas casas um pacote
cheio de cogumelos alucinógenos, para celebrar o final de dezembro.
Segundo conta a história, até alguns séculos atrás estes
xamãs e sacerdotes ligados à antiga tradição coletavam o Amanita
muscaria (o Cogumelo Sagrado), secavam-no, e o distribuíam como
presente no solstício de inverno. Como a neve estava bloqueando as portas, as
pessoas entravam e saíam por um buraco no teto, e daí veio a história do velho
Noel entrando e saindo pela chaminé.
Mas esta é só a primeira das conexões simbólicas entre o
cogumelo Amanita muscaria e a iconografia do Natal, de acordo
com vários historiadores e etnomicologistas, ou pessoas que estudam a
influência que os fungos tiveram nas sociedades humanas. Porém, é claro, nem
todos os cientistas concordam que a história do Papai Noel esteja ligada a
alucinógenos.
Presentes
sob a árvore
No livro “Mushrooms and Mankind” (“Cogumelos e a Humanidade”,
ed. The Book Tree, 2003), o falecido autor James Arthur nota que o Amanita
muscaria, também conhecido como agário-das-moscas, desenvolve-se no
hemisfério norte sob coníferas e bétulas, e que estas árvores têm um
relacionamento simbiótico com o cogumelo vermelho. Isto explicaria a árvore de
Natal, e a colocação de presentes vermelho-e-brancos embaixo dela.
“Por que as pessoas trazem pinheiros para suas casas no
solstício de inverno, colocando pacotes coloridos (vermelho e branco) embaixo
delas, como presentes para mostrar seu amor aos outros?”, pergunta Arthur. “É
por que é debaixo do pinheiro que se pode encontrar a substância ‘Mais
Sagrada’, o Amanita muscaria, na floresta”.
As renas também são comuns na Sibéria, e buscam estes
cogumelos alucinógenos da mesma forma que os habitantes da região. Donald
Pfister, um biólogo que estuda fungos na Universidade de Harvard (EUA), sugere
que as tribos siberianas que ingeriam o agário-das-moscas poderiam ter visto
renas voando em suas alucinações.
Renas
“voadoras”
“À primeira vista, parece ridículo; quem já ouviu falar de
uma rena voadora? Acho que já está se tornando um lugar comum, todo mundo
achando que Papai Noel estava ‘viajando’ com suas renas”, aponta Carl Ruck,
professor de estudos clássicos na Universidade de Boston (EUA).
“Entre os xamãs siberianos, você tem um espírito animal que
pode te guiar em sua busca por uma visão espiritual, e renas são comuns e
familiares à pessoas na sibéria oriental. Eles também têm uma tradição de se
vestir como um cogumelo, usando roupas vermelhas com manchas brancas”, continua
ele.
Ornamentos com a forma dos cogumelos Amanita e
outras representações dos cogumelos são comuns nas decorações de natal no mundo
inteiro, particularmente na Escandinávia e norte da Europa. Apesar disto,
segundo Pfister, a conexão entre o Natal moderno e a prática ancestral de
ingerir cogumelos é uma coincidência, sem nenhuma conexão direta conhecida.
Muitas destas tradições foram misturadas ou projetadas em São
Nicolau, um santo do quarto século conhecido pela sua generosidade, conforme
conta a história.
A Conexão
Noel
Há pouco debate sobre o consumo de cogumelos por tribos do
Ártico e da Sibéria, mas a conexão com as tradições de Natal é mais tênue, ou
“misteriosa”, conforme aponta Ruck.
Muitos dos detalhes modernos do Papai Noel moderno vem de “A
Visit from St. Nicholas” (“Uma Visita de São Nicolau”, que mais tarde se
tornou “Twas the Night Before Christmas” ou “Na noite da véspera de Natal”), um
poema de 1823, creditado a Clement Clarke Morre, um acadêmico aristocrático que
viveu na cidade de Nova Iorque, nos EUA.
As origens da visão de Moore não são muito claras, embora se
acredite que provavelmente foram derivadas de motivos europeus, por sua vez
derivados de tradições xamânicas siberianas ou árticas – o trenó e as renas de
Papai Noel aparecem em vários mitos do norte da Europa. Por exemplo, o deus
nórdico Thor (conhecido na Alemanha como “Donner”) voa em uma carruagem puxada
por dois bodes, que foram trocados no conto moderno de Papai Noel por renas.
Rudolf é outro exemplo da imagem do cogumelo ressurgindo; seu
nariz parece com um cogumelo vermelho.
Dúvidas
Outros historiadores parecem não crer em uma conexão entre
Papai Noel e os xamãs ou cogumelos mágicos, como Stephen Nissenbaum, que
escreveu um livro sobre as origens das tradições de Natal, e Penne Restad, da
Universidade do Texas (EUA).
Um historiador, Ronald Hutton, acredita que a conexão não tem
bases. “Se você examinar a evidência do xamanismo siberiano, como eu fiz, vai
descobrir que os xamãs não viajavam de trenó, não lidavam corriqueiramente com
espíritos de renas, raramente ingeriam cogumelos para entrar em transe, e não
tinham roupas vermelho-e-branco”.
Mas, segundo Rush e Ruck, estas afirmações estão incorretas:
xamãs lidavam com espíritos de renas, e a representação das cores de suas
roupas tem mais a ver com os cogumelos que com roupas xamãnicas. E sobre os
trenós, o ponto não é o meio de transporte, mas que a “viagem” envolve
transporte para um reino diferente, celestial.
“As pessoas que conhecem o xamanismo aceitam esta história.
Há outro motivo para Papai Noel viver no Polo Norte? É uma tradição que remete
à Sibéria”, diz Ruck. [LiveScience]
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