Por Mino Pedrosa
O marqueteiro Duda Mendonça tem pela frente uma dura missão.
O candidato petista ao Senado pelo Rio de Janeiro, Lindberg Farias, seu
cliente, não lhe contou sobre os processos que responde na Justiça do Rio de
Janeiro e na Federal, bem como o seu comportamento recente, lembrando os tempos
de cara-pintada. Também omitiu que existem fitas de vídeos comprometedoras, da
época de Prefeitura de Nova Iguaçu e fotos colocando seu cliente na sarjeta.
Esses documentos integram um processo rumoroso que tramita na Justiça do Rio.
Um dos vídeos mostra o presidente da Comissão de Licitação e secretário de
Lindberg, Jaime Orlando, contando dinheiro na casa de um empresário e fazendo
críticas ao chefe, mostrando sua irresponsabilidade administrativa e até uso de
esquema com dinheiro público. No vídeo são citados os nomes do procurador-geral
do Ministério Público, Marfan Vieira, e do desembargador José Carlos Paes,
ambos do Rio de Janeiro.
Duda correu atrás de alguns candidatos petistas com a
intenção de se reaproximar de um eventual governo de Dilma Rousseff. Se
dependesse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o marqueteiro Duda Mendonça
teria que mudar de profissão. Mas o petista José Dirceu, que ainda tem o
controle do partido apesar de ter sido cassado, está em sintonia com Dilma e
ainda dá as cartas. Por isso, Dirceu indicou Duda Mendonça para algumas
campanhas. Dentre as quais a do ex-prefeito de Nova Iguaçu-RJ, Lindberg Farias.
Lindberg, hoje, está tentando entrar no Senado Federal. Em
terceiro nas pesquisas de intenção de voto, com remotas chances de entrar; já
negocia com o governador Sérgio Cabral (PMDB) e o ex-parlamentar petista,
cassado, José Dirceu, apoio para concorrer à Prefeitura do Rio de Janeiro. O que
Lindberg pretende agora é firmar seu nome para alcançar a Prefeitura em 2012.
O ex-cara-pintada responde na Justiça a mais de 400 processos
da época em que era prefeito de Nova Iguaçu. E vem conseguindo, com manobras na
Justiça, protelar condenações buscando a imunidade parlamentar.
Cabral promete apoio a Lindberg porque não quer embate
político, no momento, mas todos sabem que o peemedebista Eduardo Paes chegou ao
poder pelas mãos de Cabral. Fica difícil descartar a reeleição de Paes.
Lindberg tem freqüentes recaídas das farras que fazia no
tempo em que era parlamentar. Foi encontrado na cobertura de um empresário
carioca caído, inconsciente, com várias escoriações no rosto e no cotovelo. O
empresário levou Lindberg a uma clínica onde passou o resto do dia e a noite
inteira, sendo liberado somente no dia seguinte. Adversários de Lindberg, na
corrida pela Prefeitura do Rio em 2012, abrem o jogo e divulgam fotos e vídeos
comprometendo sua eleição.
Luís Lindberg Farias Filho, paraibano, nascido em 8 de
dezembro de 1969, ex-líder “cara-pintada” colecionou centenas de denúncias de
má-gestão na sua vida pública. “Lindinho”, como é conhecido na praia de
Ipanema, no posto 9, trocou o seu currículo de “cara-pintada” por uma ficha
corrida de processo na Justiça.
Lindberg, um estudante de média classificação, ganhou fama e
a admiração do público quando esteve à frente da União Nacional dos Estudantes
(UNE). Lindberg liderou os estudantes em 92 à frente do Movimento Fora Collor a
favor do impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. Chegou a
reunir, com outros líderes, 400 mil estudantes no Vale do Anhangabaú, em São
Paulo em agosto de 92, ao som do hino escolhido pela “galera” O Tempo Não Pára,
de Cazuza, num revival do movimento estudantil de 68, que estava em pauta na
minisérie Anos Dourados, da TV Globo, em 92. Lind chegou a colocar uma faixa na
passeata, aproveitando-se do marketing da TV, “Anos Dourados – próximo
capítulo”.
Entretanto o Movimento Estudantil de 92 ficou longe de ser o
que foi o de 68. O de 68 tinha um forte engajamento político, o liderado por
Lindberg era imediatista, sinais do tempo. O objetivo era tirar o Presidente
Collor do poder e pronto! Pronto nada! Lindberg queria seguir carreira política
e a fama instantânea exemplo da dos BBBs que seguiriam logo adiante, era o
número exato para sua candidatura. Por outro lado, esta mesma fama o
prejudicou. A exemplo das celebridades instantâneas um poder ilusório foi
colocado em suas mãos, levando-o de encontro aos padrões salutares da sociedade.
Lindberg no seu primeiro mandato de deputado na Câmara Federal era “lido” pelos
colegas como um jovem deslumbrado pelo poder, que mergulhou no caminho dos
vícios químicos. Lindberg não tinha limites e sua ausência era notada no
parlamento.
Tudo isso fez o rapaz refletir e mudar de vida. Candidatou-se
à Prefeitura de Nova Iguaçu, cidade carente, da Baixada Fluminense, com vários
problemas de saneamento e uma população de 500 mil eleitores. Lindberg traçou
um projeto elaborado pelo PT de São Paulo, onde dava oportunidade para
estudantes ocupar o tempo integral, inclusive com alimentos doados pela
Prefeitura. O jovem líder “cara pintada” colocou em prática projetos na área
ambiental trazendo benefícios para a cidade. Só que acontecia nos bastidores a
praga da corrupção. Essa Lindberg não só não impediu que acontecesse como
também entrou no esquema de um grupo que desviava recursos dos cofres públicos.
Hoje, Lindberg disputa uma vaga no Senado Federal com um
currículo bastante questionável na Justiça. São centenas de processos
tramitando no Rio de Janeiro e alguns deles no âmbito Federal, tais como
improbidade administrativa e apropriação indevida que lesaram os cofres
municipais.
Lindberg tem boas intenções, mas normalmente é cercado por
pessoas que tiram proveito de cargos em benefício próprio. Um dos processos que
corre na Justiça tem em seu conteúdo uma fita de vídeo que mostra o secretário
responsável pelas licitações da Prefeitura de Nova Iguaçu, fazendo queixas de
Lindberg e comentando de suas irresponsabilidades na gestão de prefeito. O
secretário na época era Jaime Orlando, ex-presidente da Comissão de Licitação.
A revista IstoÉ denunciou em matéria “Os esquemas do ex-líder
estudantil”, da edição 2010, de 14 de maio de 2008, de minha autoria, que
Lindberg usou seus contatos no judiciário, gerou um processo de mais de mil
páginas com gravações e depoimentos que poderiam levá-lo à cadeia. Os processos
de Lindberg tramitam lentamente. Um deles mostra uma fita de vídeo com
acusações da má-gestão de Lindberg junto à Prefeitura de Nova Iguaçu com
empréstimos de dinheiro a fornecedores.
O vídeo foi feito na casa de um empresário que bancou
Lindberg na campanha que o conduziu à Prefeitura de Nova Iguaçu. A gravação faz
parte de um dos processos com mais de duas mil páginas, onde Lindberg responde
por várias modalidades de corrupção, desvio de dinheiro, má-gestão de verba
municipal e outros crimes financeiros.
Lindberg volta e meia tem recaídas do tempo em que era líder
dos “caras-pintadas”. Fotografias mostram Lindberg na cobertura de um
empresário carioca, após uma “bad trip” (viagem ruim). Observa-se que Lindberg
machucou rosto e cotovelo. Foi encontrado exatamente como aparece na foto pela
empregada do empresário carioca e amigo numa tarde de terça-feira, quando deveria
estar despachando na Prefeitura de Nova Iguaçu. Assista ao vídeo e veja as
fotografias do então Prefeito Lindberg Farias. Como denunciou a revista IstoÉ,
vídeos e documentos no processo movido pelo procurador do Rio de Janeiro,
Marfan Vieira, comprovam a catastrófica gestão de Lindberg. Leia também na
íntegra a matéria publicada na revista IstoÉ em 2008.
Fitas de vídeo e gravações com ex-assessores revelam como o
ex-presidente da UNE Lindberg Farias se envolveu com uma série de fraudes e
casos de propina depois que virou prefeito
Renato Velasco/Agência ISTOÉ
Nascido em 8 de dezembro de 1969, quase um ano depois que o
AI-5 mergulhou o País nas trevas da repressão política, o paraibano Luís
Lindberg Farias Filho se tornaria nacionalmente conhecido como um dos mais
importantes líderes estudantis da geração surgida com a redemocratização. Em
1992, como presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Lindberg liderou
o renascimento do movimento estudantil ao colocar nas ruas os chamados
“caras-pintadas”, que pediam o impeachment, por corrupção, do então presidente
Fernando Collor de Mello - ele acabaria renunciando em dezembro daquele ano.
Enrolado na bandeira da ética na política, Lindberg elegeu-se deputado federal
pelo PCdoB em 1994. Recebeu nota dez do Diap e bandeou-se para a
extrema-esquerda, no PSTU - o que lhe custou a reeleição em 1998. Entrou para o
PT e voltou à Câmara em 2002, na esteira da vitória de Luiz Inácio Lula da
Silva. Dois anos depois, elegeu-se prefeito de Nova Iguaçu (RJ) - cidade que
tem o quarto orçamento do Estado do Rio de Janeiro - com o apoio entusiasmado
do presidente Lula e da cúpula do PT. Agora, em plena campanha pela reeleição,
Lindberg Farias está enfrentando graves denúncias de corrupção feitas pela
ex-secretária de recursos humanos Lídia Cristina Esteves, que o acusa de montar
um esquema na prefeitura para se manter no poder. Além disso, várias ações
suspeitas de seu governo estão sendo investigadas pelo Ministério Público
Estadual (MPE) do Rio de Janeiro, pelo Ministério Público Federal e pelo
Ministério Público do Trabalho (MPT). ISTOÉ obteve com exclusividade fitas
gravadas em que assessores e ex-assessores acusam o prefeito de montar um
esquema que beneficia empresas que financiaram sua campanha política, paga
propinas a funcionários, dá cargos e dinheiro a vereadores em troca de apoio
político e conduz licitações viciadas. Um deles, Jaime Orlando, ex-presidente
da Comissão de Licitação, diz que Lindberg “trata as coisas e depois eu é que
tenho que me virar para atender”.
Um dos casos mais graves ocorreu na área de educação. Há
alguns meses, a Secretaria de Educação de Nova Iguaçu foi denunciada pelo
Ministério Público Estadual por causa de uma licitação superfaturada para
compra de merenda escolar em 2006. Esta denúncia provocou o afastamento da
secretária de Educação, a vereadora Marli de Freitas, e do presidente da
Comissão de Licitação da prefeitura, Jaime Orlando. Por conta disso, o MPE
determinou o bloqueio das contas e a indisponibilidade dos bens de Marli e de
Orlando. Também na área de educação ocorreu outro caso polêmico, a contratação
do Instituto Paulo Freire para elaborar o arcabouço pedagógico do Programa
Bairro-Escola, carro-chefe do prefeito na área de educação. A responsável pelo
programa era a mulher do prefeito, Maria Antônia Goulart. A ex-secretária de
recursos humanos da prefeitura Lídia Cristina Esteves diz que havia desvio de
dinheiro do programa para o prefeito e sua mulher. O convênio da ONG com a
prefeitura custa aos cofres municipais R$ 800 mil por ano.
O MP também investiga irregularidades na Secretaria de Saúde
do município. Na campanha de 2004, o empresário João Moroni, proprietário da
Gráfica Lastro, situada no bairro de São Cristóvão, apresentou-se a dois dos
principais assessores de Lindberg, Antonio Neiva Moreira, coordenador da
campanha, e Francisco José de Souza, o “Chico Paraíba”, que depois ocuparia o
cargo de secretário da Fazenda do município, oferecendo-se para ajudar na
campanha em troca de serviços futuros no governo. Moroni já havia colaborado em
outras campanhas do PT. Em 2005, no primeiro ano de governo, a Gráfica Lastro
ganhou a licitação para fornecer material para a Secretaria de Saúde, um
contrato no valor de R$ 1,8 milhão. No início de 2006, Chico Paraíba - já
secretário da Fazenda - e Neiva Moreira solicitaram a Moroni ajuda para a campanha
de Vladimir Palmeira, candidato petista ao governo do Estado. Em contrapartida,
segundo a denúncia, houve um aditamento de 100% no valor do contrato da Lastro.
O material da Secretaria de Saúde, contudo, nunca foi entregue. Uma CPI foi
aberta na Câmara dos Vereadores, mas não deu em nada - Lindberg controla 16 dos
20 vereadores de Nova Iguaçu.
Ainda na Secretaria de Saúde, três cooperativas que contratam
pessoal nessa área financiaram a campanha de Lindberg: a Total, a Captar-Cooper
e a Multiprof. A Total Saúde pertence aos irmãos Walter e Wagner Pellegrino,
que começaram a atuar na administração do governador Marcelo Alencar
(1995-1999). Há pouco tempo, ela ganhou a licitação para administrar o Hospital
de Acari, da Prefeitura do Rio de Janeiro, e tem em suas mãos todos os postos
de saúde do Rio e o Hospital de Posse. A Total está sendo investigada pelo MPT
por suspeita de colaborar em campanhas eleitorais e posteriormente prestar
serviços a prefeituras. Já a cooperativa Captar-Cooper, que também ajudou na
campanha eleitoral de 2004, entrou em janeiro último com um termo aditivo ao
contrato no valor de R$ 43.415.281,20, contrariando parecer do MPT. Na
segunda-feira 5, o MPT requereu a intervenção em Nova Iguaçu por causa de
nãocumprimento de decisão judicial que impede a contratação de trabalhadores
por meio de cooperativas. Documentos do MPT mostram que a Captar-Cooper fornece
cerca de mil trabalhadores “cooperados”. “A contratação de trabalhadores por
intermédio de cooperativas, além de prejudicar os contratados, que têm vários
de seus direitos sonegados, constitui fraude ao princípio do concurso público”,
diz o procurador do Trabalho Carlos Augusto Sampaio Solar. A Multiprof apenas
colaborou com a campanha.
O círculo de poder em torno de Lindberg está sob suspeita de
montar um esquema gigantesco de corrupção. O primeiro nome desse círculo é o de
Chico Paraíba, médico radicado no Rio de Janeiro, amigo e sócio do prefeito em
vários empreendimentos empresariais. Ele foi tesoureiro da campanha e virou secretário
da Fazenda do município. Todas as contas e liberações de verbas da prefeitura
passavam por Chico Paraíba. Ele acumulou o cargo de secretário da Fazenda com a
presidência do Instituto de Previdência de Nova Iguaçu (Previni). Outro
assessor muito próximo do prefeito é Jaime Orlando, velho amigo de Lindberg dos
tempos do movimento estudantil da PUC-RJ. Na época, ele chegou a dividir o
apartamento com o prefeito. Como presidente da Comissão de Licitação de Nova
Iguaçu, centralizou todas as compras do município, mesmo em áreas que
desfrutavam de autonomia, como a Secretaria da Saúde. Um processo no MP que
identificou um desvio de R$ 600 mil para a empresa de comunicação Supernova
Mídia obrigou-o a se afastar do cargo. Outro colaborador de Lindberg é Fausto
Severo Trindade. Ex-assessor do ministro Guido Mantega, quando este ocupava a
Pasta do Planejamento, ele virou uma espécie de curinga da administração de
Nova Iguaçu. Na assessoria especial, com status de secretário, ele teria sido o
responsável pela montagem de um “mensalinho” na Câmara Municipal de Nova
Iguaçu, segundo denúncia de Lídia Cristina Esteves. Através desse esquema, por
meio de cargos e favores, ficou garantido o apoio político à administração.
Evitou-se que várias CPIs fossem adiante. Depois, como secretário de
Administração, Trindade ficou responsável pela movimentação da folha de
pagamento da prefeitura, subordinado à Comissão de Licitações. Trindade deixou
a prefeitura com a expectativa de ganhar a Secretaria Executiva do Ministério
de Minas e Energia. Completava o grupo a paulista Estela Aranha, ex-secretária
de Controle, ligada a Trindade.
A ex-secretária de recursos humanos da prefeitura Lídia
Cristina Esteves foi contratada para montar toda a estrutura de pessoal
camuflando os cargos oferecidos aos vereadores - centenas, segundo ela. Cada
vereador envolvido tinha cerca de 100 cargos à disposição - muitos deles são
fantasmas, mas todos os nomes listados retiravam pagamentos mensalmente no
banco.
Segundo Lídia, a folha de pagamento da prefeitura era rodada
em João Pessoa, capital da Paraíba, por uma empresa ligada a Chico Paraíba e ao
irmão do prefeito, Frederico Farias. Essa empresa foi contratada por R$ 1,2
milhão através de uma fundação, a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da
Universidade Federal de Pernambuco (Fade). Seria uma alternativa para burlar o
processo licitatório convencional.
O prefeito Lindberg Farias responde a duas ações civis por
improbidade administrativa na Justiça fluminense proposta pelo MP do Rio de
Janeiro. Uma delas refere-se à contratação de uma militante do PT de Belém,
Valéria da Cunha Santos, para um cargo inexistente na estrutura da prefeitura.
A outra refere-se à contratação da Muripi Comunicação Integrada, cujo nome
anterior era Supernova Mídia Comunicação, com sede em São Paulo. Esta empresa
fez o projeto de marketing da campanha de Lindberg à prefeitura e foi
contratada, em 2005, para prestação de serviços por seis meses, por R$ 598.460.
Para o MP, houve irregularidade na licitação. Outra empresa havia proposto
fazer o mesmo trabalho por menor preço. Nesta ação, a Justiça determinou o
seqüestro dos bens de Lindberg e da empresa. Existem ainda oito investigações,
civis e criminais, no âmbito da Procuradoria Geral da Justiça do Rio. Algumas
foram iniciadas há quase três anos.
O procurador-geral da Justiça do Rio, Marfan Martins Vieira,
não quis falar à ISTOÉ sobre a possibilidade de que a lentidão das
investigações resulte numa espécie de proteção a Lindberg. Ele disse, através
de sua assessoria de comunicação, que estava muito ocupado.
Lídia Cristina Esteves revela o que sabia sobre o esquema do
governo Lindberg
Lídia Cristina Esteves ocupou o cargo de secretária de
recursos humanos no início do governo Lindberg, montando toda a estrutura de
cargos e salários. Ela foi obrigada a permitir que toda a folha de pessoal da
prefeitura fosse rodada na Paraíba, sob o comando de Frederico Farias, irmão de
Lindberg. Lídia diz que, ao perceber a facilidade com que nomes eram colocados
na folha de pagamentos da prefeitura, resolveu colocar três de sua escolha.
Flagrada por um colega, foi exonerada pelo secretário de Governo, Fausto Severo
Trindade, que prometeu continuar honrando seu salário, mas não o fez. Em uma
gravação obtida por ISTOÉ, ela faz revelações sobre o funcionamento desse
esquema.
- Toda essa alteração tem a minha assinatura e a do Fausto...
Limpar isso é impossível, sabe por quê? Sabe qual é o grande erro de lá? É o
excesso de cargos, uns 400 cargos. Isso é impossível de limpar de um dia para o
outro. Não tem como limpar porque é retroativo, de agosto do ano passado.
Agosto do ano passado é um tempão! Tem a parte toda de estagiário que está
totalmente ilegal.
- Eu devo tipo 800 pratas. Porque, com minha mãe doente, eu
tenho muito custo e eu tive que fazer empréstimos. Tenho três empréstimos.
- O Fausto chega na minha sala e diz: “O que você está
fazendo?” Aí eu falei: Porra, eu tô cruzando cooperativas (verificando o número
de funcionários das cooperativas. Muitos são fantasmas). “Pára com isso! Pára
com isso agora. Porque isso não interessa! Aqui quem te dá as prioridades sou
eu”. Tem gente com três, quatro empregos. Tem uma médica que ganha de três
lugares. Eu não sei o nome, não. Mas tenho nome pra
- Dois mil e porrada (funcionários municipais). Quando a gente
entrou lá, tinha mil. São pessoas dos vereadores.
- Ele (Fausto) pegou o dinheiro para a Maria Antônia (mulher
de Lindberg). Eu falei: Olha, Fausto, cuidado. Tem três processos que são de
arrepiar. O primeiro, o da Fundação...aquela fundação de São Paulo, o Instituto
Paulo Freire. R$ 440 mil para fazer a estrutura da educação e quem fez tudo fui
eu.
- Que nada, eu não roubei, eu botei três pessoas nomeadas na
minha conta e acho que eu tenho esse direito, tem gente com 60. Tem a Neide,
tem mais de 20 num gabinete.
- Foi muito estranho, foi o seguinte: eu tenho o Banco do
Brasil, eu tenho a Caixa Econômica. A palhaça aqui paga a Caixa, manda o
arquivo inteiro para a Caixa, faz os testes todos da Caixa e a folha de
pagamento minha sabe onde é que é paga? Na Paraíba. A Caixa é aqui. E aqui, não
é João Pessoa. A folha é da Fundação de Amparo à Pesquisa da Cidade de João
Pessoa. Um contrato de R$ 1,2 milhão. Você compra uma folha aí, qualquer titica
por 40 pratas, não compra? E a folha fica em João Pessoa, olha, a lista fica em
João Pessoa. O destino dela é João Pessoa. Na conta do Chico, quando eu cheguei
lá estavam 600 (cargos).
- A aposentadoria do pai do vereador Marcos Fernandes é 50 0
paus e ele está levando seis mil. Eu tirei de todo mundo. Na hora de tirar do
pai do Marcos Fernandes não deixaram. Aí nomearam o pai dele, ele, a mulher, a
filha, todo mundo. Passou de seis mil, passou para 60 mil.
- Acho o Jaime (Orlando) uma pessoa legal, mas ele está
no bolo, né. Tô preocupada com ele, não vai durar muito.
- Bandidagem, eles chamam. Sabe como Neiva (secretário de
Articulação Política) trata aquilo: é quadrilha. Trata-se de quadrilha. Na
cooperativa eu sei que o Chico passa o dinheiro para o Fausto.
- Eu tenho medo, muito medo, desde o ano passado. Eu falei: cara,
eu tô sem dormir. Eu durmo, eu durmo com os seus mapas (de cargos) embaixo do
meu travesseiro.
Os principais personagens do caso Lindberg foram filmados
contando dinheiro e revelando tramas comprometedoras
Numa tarde no final do mês de março, Jaime Orlando, assessor
do prefeito Lindberg Farias, se encontra com um personagem não identificado.
Ele carrega uma mochila preta às costas, traja calça jeans, camiseta com uma
estampa no peito na qual se lê Life Guard (salva-vidas, em inglês) e porta R$
150 mil guardados na mochila. Em seguida, Jaime usa uma máquina de contar
cédulas e faz comentários sobre a administração e o comportamento de Lindberg.
- O Lindberg tem essa mania. Trata as coisas e depois eu é
que tenho de me virar para atender. Tive que conseguir em uma empresa esse
dinheiro porque fui o avalista desta história.
- Estou chateado com essa história do Renato (Colocci,
secretário particular do Lindberg), me fez correr atrás, desesperado, de R$ 60
mil, no mesmo dia, dizendo que era para o Marfan ( procurador-chefe do MP do
Rio de Janeiro). Eu me preocupo porque o meu processo está lá. Se eu deixar, o
Lindberg não acompanha. Ele me disse que está tudo sob controle.
- Quando os caras (donos de empresas que prestam serviços ao
município de Nova Iguaçu) estão com suas faturas em atraso, eles vêm em cima de
mim, porque eles cumprem todo mês a parte deles.
- O Lindberg trata as coisas e as pessoas ficam o tempo todo
me cobrando.
Elza Helena Barbosa era secretária de Francisco José de
Souza, o Chico Paraíba, secretário de Fazenda e tesoureiro da campanha. Ela
procurou um amigo que gravou a conversa em que ela revela o desvio de verbas da
prefeitura para um esquema pessoal do seu chefe com o irmão de Lindberg.
- Daquela última fatura de R$ 4 milhões, 30% ficou com o
Chicão (empresário e prestador de serviço da prefeitura, do setor de
saneamento).
- Chico (Paraíba) mandava fazer os depósitos para o Fred
(Frederico Farias, irmão de Lindberg), usando uma construtora, uma tal de
construtora Flamboyant, lá na Paraíba. Foram vários depósitos, inclusive tenho
guardados comigo todos os documentos.
- É um absurdo o Hospital da Posse daquele jeito e eles
metendo a mão no dinheiro que é para a saúde, para a merenda. Se a polícia me
chamar, eu conto tudo, tenho tudo documentado.
- Eu tenho comprovante de depósito, tenho quais foram as
contas que eu mandei. Ele (Chico) agora está namorando a minha irmã. Pega um
avião aqui e vai com minha irmã só para passar uma noite em São Paulo. O Chico
está investindo em imóveis lá em São Paulo, comprou um flat tudo com dinheiro
daqui. Se eu quisesse me beneficiar desse esquema sujo, para mim era fácil, mas
acho uma sacanagem. Dinheiro da saúde, da educação é sacanagem.
por: tomamaisuma.blogspot