ISTO FOI DITO POR UMA PETISTA, VOCÊ ACREDITA?




DITO POR UMA PETISTA...

Impressões de uma petista sobre o Encontro Nacional.

Estive no Encontro Nacional e resolvi relatar o que vivi e o que lá senti. Esse relato não tem nenhuma pretensão de polemizar ou debater a situação interna do PT, mas é o desabafo de uma petista apaixonada pelo PT, que esteve na construção desse projeto desde o primeiro dia, que vota e continuará votando em seus candidatos, mas também muito preocupada com os caminhos desse nosso PT.
Começo relatando que os apoiadores dos Zés (Genoino e Zé Dirceu) queriam, no Encontro Nacional do PT, fazer algo que demonstrasse solidariedade aos nossos companheiros. Depois de algumas consultas telefônicas, soubemos que os jovens estavam mobilizados, tanto para gritar palavras de ordem como também para levar banners.
Chegando lá, tive a mistura de vários sentimentos. O primeiro, e mais impactante, foi o de estar em uma cerimônia formal, que me fez lembrar uma formatura, e não em um ato político e festivo do PT.
Logo em seguida, mais um desalento, quando soube que os banners haviam sido recolhidos logo na entrada, não por motivos de segurança da Presidenta (a madeira de sustentação dos banners já havia sido retirada), mas por ter sido proibido qualquer tipo de manifestação através de faixas e até mesmo de camisetas.
Passei a ter, assim, aquela mesma sensação do incômodo do penetra que não é bem-vindo, ao me dar conta da frustração dos jovens petistas em não poder se expressar livremente num Encontro do PT.
Antes do início da cerimônia passei a circular e comecei a me sentir como um ET chegando ao planeta Terra, com aquele estranhamento geral, como se lá não fosse o meu mundo habitual que tão bem conhecia.
Passei a contar nos dedos os velhos e conhecidos companheiros de luta. Isso em pleno Encontro Nacional e em um ato que deveria ser algo para agitar a militância a enfrentar o duro processo eleitoral que se avizinha.
Ainda vivi a situação inusitada quando saí do recinto para fazer companhia à amiga, fumante, Misa Boito, com a intenção de retornarmos a tempo dos discursos do Lula e da Dilma.
Ao voltarmos, fomos surpreendidas pelos conhecidos homens de preto, já habituais em nossos eventos desde a primeira eleição de Lula, que tentaram impedir nosso retorno, mesmo estando, as duas, com crachás de identificação. Não bastaram os argumentos pacíficos de duas mulheres, tão antigas no PT quanto o próprio Lula, que pediram, inclusive, para passar novamente em revista nossos corpos e nossas bolsas. Foram implacáveis. Perdemos longos minutos, destratadas com muita deselegância e desrespeito.
Garantir a segurança da Presidenta, sim, mas brutamontes em bloco e com truculência em cima da militância é algo inaceitável. Inconformadas, resolvemos reagir à altura, colocando nossos pés para impedir que a porta fosse definitivamente fechada.
A Misa conseguiu então romper a barreira e passou a contatar nossos poucos e velhos companheiros para que nos liberassem daquele martírio.
Mesmo relevando esse inusitado incidente, a impressão de que foi um dos piores atos que o PT já realizou continuou me acompanhando até quase o final, quando, então, tive uma surpresa agradável: apesar de todo o esquema de censura aos petistas, os banners adentraram pelo recinto nas mãos dos jovens que os trouxeram. Aí tive aquela recordação da rebeldia de minha juventude, quando lutávamos pelo ressurgimento do movimento estudantil, rompendo barreiras para enfrentar o fim da ditadura, organizando ações clandestinas para sabotar e vencer os opressores.
Mas me dei conta que estava em pleno Encontro Nacional do PT. E me perguntei: cadê meu PT? Percebi que não estava mais lá. Aquele não era o meu PT.
A não ser o reencontro caloroso entre os raros companheiros de luta, o clima que ali encontrei era gélido, melancolicamente compartilhado e que se queixaram do mesmo deslocamento.
Deparei-me, ainda, com mais alguns, igualmente solitários, perambulando como se estivessem à procura desesperada daquele nosso PT que fazia Encontros exatamente com o intuito de passar as coordenadas políticas, para agitar e contagiar a militância com aquela energia forte e vibrante que nos revigorava para o enfrentamento das eleições, que inflamava e contaminava a todos, jovens, adultos, crianças, petistas ou até os meros simpatizantes, que empunhavam bandeiras, que se enfeitavam para participar de uma atividade com forte viés político, quando se avistavam faixas enormes afixadas por todo o local com palavras de ordem para orientar a luta. Naquele lugar sequer um único banner em defesa da Petrobrás. Nenhuma palavra de ordem. Nada disso. O PT agora é o da ordem institucional. Mas, mesmo considerando que seja obrigado a cumprir determinadas formalidades, penoso é constatar que agora prepara apenas cerimônias e não mais atos políticos, com os representantes “oficiais” que se isolam em salas vips, que parecem estar ali para cumprir uma mera formalidade de ocasião.
Palavras e scripts repetidos, discursos nada improvisados, índices ou números muito significativos e importantes, mas que soavam para muitos que ali ouviam como enfadonhos ou difíceis de memorizar. Conversas paralelas que chegavam até a abafar os discursos das nossas mais importantes lideranças, como se muitos não compreendessem ou não se importassem com o que no palanque diziam. Nada que emocionasse ou falasse alto aos nossos corações e mentes.
Percebi, então, que o público que lá encontrei está muito longe de representar uma renovação saudável de nosso Partido. Tampouco senti ares de boas mudanças ou um frescor de idéias. Muito longe disso, dessa vez a sensação de desconforto foi ainda mais forte por perceber que os novos companheiros oriundos das máquinas eleitorais já são a sua grande maioria. Foi duro constatar que hoje são eles os que ocupam os plenários dos encontros petistas, que tem a burocracia partidária como liderança e que está na política apenas e tão somente por gratidão, mas nunca por paixão.
Lembrei então do discurso do Lula que disse que durante a campanha temos que resgatar a imagem do PT combativo, fazer com que a juventude volte a ter orgulho do nosso Partido. Imediatamente pensei: como fazer isso e como enfrentar o cerco cada vez mais duro da direita com uma militância que não tem autonomia, que não se manifesta e quando quer se manifestar é impedida, que está despreparada, desarmada e até mesmo sem criatividade para sequer fazer a defesa da Petrobrás?
Considere-se ainda que nós, os petistas de primeira hora, que com tanta paixão e de forma tão aguerrida se atiraram nessa luta da construção desse nosso projeto, sentem-se convidados a um distanciamento cada vez maior diante da tamanha descaracterização de nosso Partido.
Temos ainda as violações aos direitos dos nossos companheiros condenados e que demonstram uma perseguição política implacável ao PT. As manifestações de nossos dirigentes são excepcionalmente importantes, mas ainda sem uma consequência direta capaz de romper o cerco e bloquear a tendência da direita, já com viés fascista, e que criminaliza a cada dia a política e os movimentos sociais.
O que fazer? Essa é a realidade a enfrentar. Mas não há mais como deixar de pensar nessa conjuntura tão cruel e na imensa tarefa de resgatar o PT dessa encruzilhada. Quando? Uns dirão, certamente não é esse o momento. As máquinas eleitorais começaram a operar a todo o vapor e as forças precisam estar voltadas para vencer o inimigo. Mas até quando vamos adiar o enfrentamento dessa dura tarefa?
No final daquela cerimônia, registrei em minha mente uma imagem insólita: a nossa Presidenta Dilma falando para um plenário esvaziado em cima do palco, e bem abaixo dela o militante com braço erguido segurando o banner dos dois ex-presidentes do PT, nossos queridos Zés, estampados na famosa foto dos braços erguidos com a expressão PRESENTES! Enquanto a Dilma continuava seu discurso, militantes se revezavam ao lado do banner para fotos e mais fotos. Para alguns, uma cena que poderia até parecer triste ou quase patética, mas para mim soou como um pequeno sopro de resistência, um pequeno gesto de coragem que demonstra que a militância aguerrida ainda está viva. É essa a força jovem que pode revigorar e impulsionar o Partido, que não demonstra medo justamente porque não está atrelada ao poder das máquinas eleitorais e que precisa ter sua voz ouvida dentro do PT.
Quem sabe, num tempo não tão distante, acumule forças para espantar os que tomaram conta da quase totalidade dos espaços partidários e que hoje se posicionam como “donos” do nosso Partido espantando os bons combatentes.
Quem sabe, quando menos se espera, os burocratas partidários sejam surpreendidos por ações, ainda que clandestinas, desses jovens aguerridos, que não se intimidam em expressar sua vontade política, que sabem furar bloqueios e expressar sua voz dentro do PT.
Esse meu desabafo se dirige aos meus queridos companheiros que parecem não compreender minhas lutas prioritárias, tampouco meus sentimentos ultimamente.
Que tenham a certeza de que estaremos juntos e seguiremos em frente, sempre com o mesmo objetivo de derrotar o nosso maior inimigo, aguardando que o final desse embate seja para todos nós vitorioso.
Estamos todos com Dilma, como também continuarei na solidariedade diária e na luta intermitente para ajudar meus Comandantes Guerreiros, hoje presos políticos e reféns das arbitrariedades e tiranias do presidente do STF! 

Stella Bruna
Link com a publicação original de Stella Bruna Santo

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem

Formulário de contato