EM VEZ DE ARMAS, EDUCAÇÃO
Cena de uma campanha antidrogas:
pouco dinheiro gasto em prevenção |
Existem três abordagens clássicas para combater o problema das drogas: liberar, reprimir e prevenir. Até agora as melhores respostas para o problema vêm das campanhas de prevenção acompanhadas de programas de tratamento.
O estudo mais respeitado sobre o assunto, patrocinado pelo
afamado instituto de pesquisas americano Rand Corporation, mostra que a
prevenção aliada ao tratamento é dez vezes mais eficiente que a repressão.
Apesar disso, 93% das verbas públicas nos Estados Unidos são
empregadas na repressão e apenas 7% em tratamento e prevenção. No Brasil, não
existe política pública de âmbito federal para enfrentar o problema. Essa
tarefa é missão da Secretaria Nacional Antidrogas, a Senad. O órgão foi criado
há um ano com a missão de fazer o diagnóstico do problema das drogas no país,
apresentar soluções para combatê-lo e coordenar os esforços dos diversos órgãos
públicos envolvidos na questão. Até agora os resultados são lastimáveis. Em vez
de discutir o assunto a sério, a secretaria vive às turras com a Polícia
Federal e o Ministério da Justiça, e nada anda. As campanhas de prevenção ainda
são tímidas. Neste ano, o governo liberou apenas 340.000 reais para o
tratamento de dependentes químicos. É muito pouco. O trabalho pesado fica por
conta das mais de 2.000 ONGs criadas para enfrentar o problema.
É óbvio que é muito difícil atacar o problema. As políticas
de repressão, em todo lugar do mundo, se defrontam com um terrível paradoxo:
cada vez mais traficantes são presos e condenados, mas ainda assim o tráfico
aumenta. Várias formas de repressão já foram tentadas. O México decidiu
incumbir o Exército de guardar as estradas do país. O resultado foi
catastrófico, o tráfico abriu o caminho à base da corrupção, contaminou a
corporação, e seguiu intocado. Na Colômbia, o governo aceitou apoio dos Estados
Unidos para criar umas das mais fortes estruturas repressivas que se conhecem.
São 1.000 pessoas presas por ano, um ataque armado por dia. Milhares de
operações deixaram 100 helicópteros militares avariados e 52 pessoas mortas nos
últimos cinco anos. Os chefões foram derrubados um a um e em seu lugar surgiram
outros.
Na Itália, o maior golpe recebido pelo narcotráfico partiu da
Justiça. As investigações conduzidas durante a Operação Mãos Limpas produziram
resultados impressionantes. Foram 3.000 pessoas oficialmente investigadas,
1.000 indiciamentos e 400 condenações. A operação chegou ao topo do poder
político.
Os juízes italianos perseguiram os bandidos com poderes
totais. De suas mesas acessavam as movimentações bancárias dos investigados e
tinham inclusive prerrogativa de determinar prisões amparados apenas por
suspeitas. O país balançou, as leis mudaram, o tráfico sofreu um baque duro.
Mas continuou.
Experiências de liberação do consumo também fracassaram. Em
1991, a prefeitura de Zurique, na Suíça, transformou uma estação de trem
desativada em zona livre para o consumo de heroína e cocaína.
Nos fins de semana, o número de frequentadores chegava a
5.000. A área foi fechada em 1995.
Pensava-se que liberando as drogas seria possível controlar
seu uso. O que aconteceu foi o aumento da criminalidade e a suspeita de que o
vírus da Aids se estaria disseminando com rapidez entre os frequentadores.
O que mais marcou nessa experiência foram imagens de viciados
injetando heroína com seringas usadas.
O Globo.com
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