Saudade de um outro tempo!




Lembro-me de quando Taguatinga era cercada por matas, chácaras e estradas de chão.
Nos idos da década de 70 havia uma extensa zona rural, nela íamos buscar hortaliças e verduras fresquinhas. 

Muita saudade daquele tempo... cometi esse poema, mas que cabe em qualquer lugar desses sertões de Brasília, de Goiás e de Minas.

Louco
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Resido em um casebre à beira do mato.
À direita, a roça de milho amarelinho.
À esquerda, tem um muito de tudo um pouco: couve, jiló, quiabo, maxixe, taioba…
As galinhas caipiras ciscam os tempos, revolvendo a terra do quintal.
Defronte passa a estrada de chão que me leva para onde eu preciso usar relógios.
Meus olhos se fundem ao vermelho minério que colore tudo: os pés, os sapatos, os santos, as paredes, os lençóis...
O fusca 69, azul-diamante, está coberto pela poeira - mas se colocar gasolina ele te leva até perto do fim do mundo.
As araras, papagaios, periquitos, sabiás, canários, trinca-ferros... todos esses bichos, transformam o mundo em um turbilhão de emoções coloridas e sonoras.
O Urutau, imobilizadamente, se faz presente e invisível, como se nada lhe incomodasse.
Cai a tarde e o sol vai se esconder nos longes do Japão.
Como é louco esse mundo, louco também é o meu coração.
A noite produz um silêncio arrasador, o canto triste da seriema corta a carne, fazendo-me crer que a soledade é minha melhor amiga.
A meia noite as estrelas formam um mar sem fim.
Estrelas cadentes incendeiam minha alma.
Frias são as estrelas que nada falam.
E a Lua? Ahhhhhh, a Lua.
Quando ela vem - poderosa e cheia - os lobisomens uivam chamando suas namoradas para dançar.
Em noite de Lua gigante, eu nem acendo o lampião da varanda.
No violão, ponteio tristemente uma música de solidão.
As cigarras se escondem do sereno e me acompanham com tons bemóis.
A noite cai, pesadamente, e vem linda e longa e negra e repleta de sonhos que se espalham na imensidão desse meu sertão.
Terra vermelha, consagrada, terras roxas, outras terras...
Boas para o plantio de árvores, gentes, relações e histórias.
Vem a manhã, que rouba da madrugada toda a poesia do lugar.
A porquinha obesa ganha o conforto matinal dos primeiros raios de sol.
E eu; as cinco da matina, coo meu delicioso café, no velho bule.
O pão vai à chapa do longevo fogão de lenha... lenhas de brasas incessantes.
Componho o início do dia ouvindo a algazarra passarinheira.
De leve, sereno, o radinho entoa Tonico e Tinoco.
Sem telefone, sem problemas e tecnologias, o bucólico mundo do sertão acorda.
E é preenchido com a mais imensa das saudades.

Gilmar Fernandes

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